
Tenho Mais Almas que Uma
Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma.
"Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo."
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Vivemos imersos num grande oceano de energias - formas - pensamentos.
Hoje lembrei-me desta poesia ao olhar esta foto da Terra imersa num sem fim de focos de luz, que na verdade, satélites ou sucata deles, abandonados, lixo espacial a orbitar em volta de nós, presos ad eternum. É o resultado da primorosa ação da ciência tecnológica. A cada um que fica obsoleto, lança-se mais e mais.
Certa feita, uma amiga postou esta imagem* e junto um belo texto sobre a magnitude da Terra. Algo belo que em nada condizia com a realidade da foto: o lixo espacial que nos envolve. Escrevi-lhe in off pedindo que pesquisasse sobre o assunto.
Ela o fez, seus olhos estavam inocentes. Não foi por mal.
Mas todo cuidado é pouco...

enlevados com imagens
que na realidade são o protótipo da nossa falta de percepção,
a antítese do que vemos como belo e bom!
Nos extasiamos com a beleza de um linda árvore rara
e, nem percebemos que, sem noção,
pisamos nas sementes ou mudas
da raridade que caem ao seu entorno,
destruindo a espécie.
Belos animais com pedigree nos atraem
e passamos ao largo de animais sofridos e feridos, abandonados doentes,
nem sequer um olhar lhe direcionamos.
E gente, por causa do medo que hoje é geral, dar uma moeda, nem pensar! Muitos reclamam do incômodo que lhes causam.
Sempre agradeço aos céus, 'infelizmente', quando um pobre ou criança me pede algo.
Bem melhor do que uma arma apontada para nossa cabeça,
não mais "pedindo", e sim, "mandando", "exigindo"!
Enfim, o que tem a ver a poesia e o lixo em torno de nós?
Penso que somos assim como a Terra,
vivemos cercados de tantas formas - pensamentos,
nossos ou pensamentos dos outros que se cruzam
e que não nos damos conta dos efeitos sobre nós.
Quantos de nós, num repente, mudamos de humor
num determinado lugar, perto de alguém.
Quantas imagens desconexas passam em relâmpagos na nossa mente.
Algumas frutos de nós mesmos.
Outras , energias que captamos de outros seres deste plano ou de outras dimensões.
Num mesmo dia podemos mudar radicalmente de idéia.
Ficamos tristes, até com raiva, sem entender os porquês.
Para aquelas pessoas sensitivas ou médiuns é um treino essa percepção contínua
do que faz parte de nós e o que provêm de fora.
Já perceberam que quando fazemos atividades que não gostamos, parece que outro ser passa a habitar em nós?
Surge em nossa tela mental imagens de pessoas que nos magoaram ou tristes cenas,
e daí já incorporamos um fardo pesado de maus pensamentos,
num pessimismo angustiante.
Outras vezes, num exemplo, cuidando de um jardim,
mexendo com água, ouvindo belos sons, num contrário,
tudo em nós é paz e serenidade. Começamos a trabalhar
com o hemisfério direito do nosso cérebro,
morada das intuições, abrimo-nos para a beleza,
para a espiritualidade maior.
Sempre me imagino no meio das ondas de rádio e televisão
que cruzam nosso espaço não visível.
Brinco, as vezes, que devo estar dentro de um filme de guerra
ou numa comédia ou romance, navegando
em ondas eletro-magnéticas da televisão.
Somos atravessados por outros Eus.
Dentro de mim moram vezes anjos outros nem tão angelicais assim.
E eu sou muitos eus.
E , creio, que é normal.
Somos seres a viver, cotidianamente,
em vários ambientes,
lidamos com várias pessoas.
E, eu preciso ser diferente, tantas vezes, no trato com cada situação.
Em casa, no trabalho, nas minhas caminhadas matinais, quem anda ali?
Que Eu comanda minha mente, meus passos?
E com aquele parente insuportável,
ou com meus amores,
serei sempre o mesmo Eu?
"Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou."
Dizem que: "a cada um segundo suas obras".
É justo ser sempre receptiva, a "boazinha"
com aqueles que não podem entrar em mim?
Devo respeitá-los, com certeza,
mas não posso deixar
que o Eu do outro esteja em mim.
Carrego seus fardos?
Posso escutar seus penares,
ter imensa e fraterna empatia com suas mazelas,
ajudá-los amparando-os, entretanto,
não posso levar comigo a sua dor,
nem sua tristeza, nem seu mau humor.
Senão serei um espectro dos outros,
não Eu.
Já me bastam os meus próprios Eus
de que fala o poeta!
Penso como Pessoa,
"Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar:
eu falo."
Sim, falo
com a minha personalidade,
com o meu caráter.
Estes falam mais alto.
Tenho que estar sempre atenta para "entender"
quem me pede morada,
quem vem "por e através" de mim.
E, se as energias desses Eus me fazem mal,
se não me trazem felicidade e paz na alma:
"Ignoro-os.
Nada ditam"
Sou Eu que lidera meu ser!
"A quem me sei: eu escrevo."
Eu sou eu,
vezes anjo, vezes nem tão angelical assim
Escrevo para... vocês!
Me contem, por favor:
seus Eus ou seu Eu me entenderam?
Se não gostarem,
coloco a culpa num dos meus outros Eus.
Simples Ser... Complicado Ser.
*Foto da Agência Espacial Européia(2009):
"Segundo a Agência Espacial Européia, entre o primeiro lançamento do Sputnik(1957) e janeiro de 2008, cerca de 6 mil satélites já foram enviados para a órbita terrestre. Destes, apenas 800 estariam ativos e 45% estariam localizados a uma distância de até 32 mil quilômetros da superfície terrestre".
SURREAL:
Reciclamos nosso lixo aqui!
Campanhas e mais campanhas, politicamente corretas.
E lá, do lado de fora,
QUEM deve reciclar este lixo?
Nós, o povo; nós, simples mortais?!