Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Confesso: não entendi a proposta. O que me diz?



Muda de Vida ou Muda de Poema 




"Um poema não é uma coisa que se coloca sobre o teu dia 
como um condimento sobre o teu almoço. 
A vida de uma pessoa não tem material semelhante a nada que conheças. 
Existir é feito de peças impossíveis de copiar. 
E a poesia não entra nesse material único 
- a vida de uma pessoa - 
como o avião no ar ou o acidente do avião na terra dura. 
Um poema não é manso nem meigo, não é mau nem ilegal.  Os homens não se medem 
pelos poemas que leram, 
mas talvez fosse melhor. 
O que é a fita métrica comparada com algo intenso? 
Há poemas que explicam trinta graus de uma vida 
e poemas que são um ofício de demolição completa: 
o edifício é trocado por outro, 
como se um edifício fosse uma camisa. 
Muda de vida 
ou, claro, 
muda de poema."

Gonçalo M. Tavares, 
 in 'A Perna Esquerda de Paris'


Serei eu a minha vida
ou serei uma imagem?
A cópia do poema que escrevo ou leio.
Um poema tem esse poder de me dar vida?
E um outro, o de me devastar, 
renascendo-me em outro?
Outro o quê?
Vida?
Poema?
E serei avaliado por aquilo que poetizo ou me avassala a alma quando leio?
Ou folha em branco que me submeto como um mártir, escravo da poesia?

Na verdade, creio que sou eu quem é o autora da minha vida, 
quem escreve na página vazia
a minha poesia. 
Não é o poema que me dá o sopro da existência nem é  meu ser,  total e pleno.

Mudo a cada dia, 
morro, 
renasço
rabisco, 
apago, 
reescrevo...
mas sou eu a dona da vida que cria as poesias.

 - Maria Izabel Viégas -

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Não te preciso!


 "Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem inseto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Identidade 
Mia Couto, 




 Se eu
'preciso ser um outro
para ser eu mesmo'...

Ó céus!
Por Deus,
se é assim
que funciona
o mundo
confesso
que devo
precisar de ajuda,
sofro de moléstia
e grave.

Se para 
ser-me 
eu mesma
urgente 
faz-se 
necessário
viver 
no colóquio  
com o outro.

O que faço
se minha solidão
me basta,
se nela 
me reabasteço
e revivo?

Se é minha solidão
que preenche
todos os meus vazios?

Para que te quero
invasor de mim
outro ser
estranho
aresta 
de gente
diferente
que me 
molesta 
fere 
e angustia.

Não me fales.
cala-te.
Fica contigo. 
e eu comigo.

Sem ti
mergulho-me
renasço-me
a cada instante.
Estou viva!

- Maria Izabel Viégas -

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um sorriso só, é o que te peço!


 "Está bem
- disse o Gato de Cheshire; 
e desta vez desapareceu bem devagarinho, 
começando com a ponta da cauda 
e terminando com o sorriso, 
que permaneceu algum tempo depois que o corpo sumiu."

- Lewis Carroll -
in Alice no País das Maravilhas


Um sorriso só, 
mas que seja bem, 
bem sorridente, 
é o que te peço... 
e me farás feliz 
por hoje; 
pelo amanhã,
por todo o tempo.
Podes mudar, quem sabe...
o rumo da tua, 
da minha, 
de toda uma vida.
E foi assim,
que terminou...
ó não!
que começou
 toda a nossa vida!

- Maria Izabel Viégas -

sábado, 25 de janeiro de 2014

Insiste Em Ti Mesmo









Insiste Em Ti Mesmo

"Insiste em ti mesmo; nunca imites.
A todo o momento, podes exibir o teu próprio dom com a força cumulativa de toda uma vida de estudo;
mas do talento imitado de outro tens apenas posse parcial e momentânea.
Aquilo que cada um sabe fazer de melhor
só pode ser ensinado por quem o faz.
Ninguém sabe ainda o que seja, nem o pode saber, enquanto essa pessoa não o demonstrar.
Onde está o mestre que pudesse ter ensinado Shakespeare?
Onde está o mestre que pudesse ter instruído Franklin, ou Washington, ou Bacon, ou Newton?
Todo o grande homem é único."

Ralph Waldo Emerson,
in "Essays"



Não existe tempo,
nem momento certo,
nem limites,
nem idade
para o assumir-se a si mesmo.
A cada dia descobrimos em nós

o brotar de um novo saber,
o despertar de um talento ou dom.
Deixa um pouco que seja de comparar-se com,
de olhar as conquistas de outrem,
invista em ti mesmo
Eu ainda estou insistindo nesta singular e profunda redescoberta.
Invisto.
Insisto.
Nunca desisto de mim.

- Maria Izabel Viégas - 

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Como escreverás a tua biografia?





"Se depois de eu morrer, quiserem escrever minha biografia,  
Não há nada mais simples  
Tem só duas datas  - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhante de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza."

Alberto Caeiro,
( heterônimo de Fernando Pessoa) 

in "Poemas Inconjuntos" ;


Certa vez li num livro Sufi que as palavras de um mestre
quando são escritas são suas...
mas que quando soltas ao vento, ficam nossas,
à mercê de nossas interpretações.
E assim o é.

Cada frase,
cada pensamento mora
dentro de um tempo da História,
fruto de um contexto social,
são observações ou relatos
sobre pessoas ou momentos,
são desabafos momentâneos do escritor
ou incríveis insights visionários.

Suas palavras espalhadas 
e apropriadas por outras mentes,
passam a ter outros donos,
outras mentes são novos senhores!

Atrevo-me, então,
a dar uma visão ao poema acima,
certa que muitas outras existirão!
E confesso, provavelmente, errarei,
pois em verdade, sou eu que
num êxtase com o tema,
falarei em nome da experiência minha.
Faço-o, entretanto, com a humildade de quem nada sabe sobre o tudo.
E certa de que há possibilidades de mudar,
(oxalá eu assim o faça)
minha opinião!

Incrível a capacidade de Fernando Pessoa
de ainda definir personalidades
que convivem conosco neste mundo.

As pessoas comprometidas no Bem
desejam mostrar o melhor do ser humano,
para que, alguns desavisados, de tanto ler, encontrem um caminho
que pelo menos os façam contribuir mais e melhor
na sociedade em que estamos inseridos.
São insistentemente virtuosos nessa arte de transformar o mundo!

Renegar, entretanto, que existem comportamentos assim
 como o descritonesta"biografia" de Caeiro
é distorcer a realidade.

Nestas horas entram os poetas...
E como o Pessoa o fez sempre com magnitude...
juntou em muitos heterônimos,
os pedaços dos cristais ou de cacos de vidros
que são as pessoas viventes.

Qual de nós em algum momento de nossa vida não sentiu-se um nada!
Quem não se entregou à sua própria sorte( ou falta de),
certo de que nada de bom há em si?
Quem nunca duvidou que nascer, viver e morrer era o destino do homem?
E só.

E eu aqui, insistente no tema das injustiças sociais,
questiono:
Como não enxergar,  na atual conjuntura, os atos do ser humano?
Aqueles que vivem somente para si,
cegos pelo desejo de ter sempre mais em seu benefício.
Para eles só a própria existência.
Existem morte e fome na África ou ali no Nordeste Brasileiro?
A Síria e o Egito estão em guerras insanas?
Que assim seja!
Não é meu vizinho!
Cada um que cuide de si!

São gente ou espectros de gente os homens poderosos do mundo?
São gente ou espectro de gente aqueles que adotam uma postura clerical
de religioso puro, adeptos de doutrinas em que por serem as suas,
se acham deuses?
Que oram nos seus cultos pela raça humana
e logo após, maldizem o outro
que lhe atrapalha o caminho?
Que espera a salvação pela religião
e posterga atos mais generosos,
na 'certeza' de uma vida além da vida
onde se fartarão com manás e benesses?
Como serão descritos na sua futura biografia?

E todos os déspotas, heróis carniceiros e vilões,
que por terem muito mais do que necessitam
usurpam a possibilidade digna de vida
da maioria pobre e esfomeada do mundo?
Com certeza, imagem negativa de si mesmo,
nunca a terão, tal a importância egoística
que a si próprio atribuem.
Estes homens egóicos,
astutos,
adoecidos da alma,
nos quais incluo o plebeu, dito inocente, que crítica
mas é idêntico ao nobre que ele inveja
seguindo-o à risca em vilãs atitudes,
Juntam-se os religiosos de carteira assinada
e auto - intitulados iluminados,
nada acrescentam,
pois para mudar o mundo,
precisa-se de gente pura de alma,
não de túmulos caiados,
plenos somente de gestos fartos em atos públicos.
Todos estes nunca terão
a coragem suprema de admitir
e assinar uma tal biografia:

A de que nasceram e morreram, apenas.
No meio - uma existência plena de vazios!




- Maria Izabel Viégas -

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

De que adianta?





De que adianta
se o Cosmos é cheio de colores.
se eu não apreciar a visão do mundo. 
De que adianta 
o sol nascer,
se eu não o celebro a cada amanhecer...
 E se eu não ouvir 
os sons da alegria 
ou os angustiados apelos da dor,
e se não parar 
para escutar a voz do silêncio? 
de que adianta ter voz...
se não falamos 
o que realmente 
pensamos e somos;
se não mudamos de opinião 
quando é preciso;
se não escutamos
 
aquele que nos dirige a voz;
se falamos palavras vãs. 
De que adianta, então?
Tudo é um só nada 
nesse seu estreito mundo.
 Melhor ficar no seu castelo, 
olhar através de vidraças das janelas
 ou esconder-se atrás dos muros!

-
Maria Izabel Viégas -

domingo, 19 de janeiro de 2014

Chove




"Chove"
"Mas isso que importa!
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
Uma melodia do silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama."

 - José Gomes Ferreira -


Quando criança
a chuva me impregnava
de alegria.
Ela me arrastava,
ela um rio
eu sempre um barquinho
velas içadas seguindo
as imensas correntezas
que no meu imaginário
se formavam ali
no quintal da minha casa.
Criança, puro instinto
Criança - semente
eclodia em prazer.
Renascia a cada temporal.
O tempo passa
a criança já perdeu o seu barquinho
ou escondeu-o num baú
do nem sei onde.
Tenho muitas
lembranças
guardadas
num tempo,
espaço,
num poço
fundo
de tão escondido
virou tesouro,
perdido
lá no bem distante.
Perdi a chave
Perdi, que pena!
Creio que ficaram na distância.
Hoje, entretanto,
a chuva não é a mesma
Caiu uma aqui por estas bandas
que escorria um negrume esquisito.
Ela não leva mais barquinhos de crianças.
E sim, arrasta casas, prédios, cidades
Arrasta o mundo.Culpado mundo.
Foi o todo mundo que a fez ficar assim.
Pobre chuva.
Tornou-se ácida.
Na próxima tempestade
decodifico o meu código
e saio a brincar
alegre na chuva
talvez quem sabe,
retorne a confiar de novo
no poder criador
e purificador da chuva.
Sempre há esperança
naquilo que guardamos
no silêncio do nosso coração.
Talvez o medo
vá embora

nas correntezas
da vida.
Pode ser,
quem sabe
talvez.
tomara
que
assim seja.


Maria Izabel Viégas

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Eu, meu perfume de mulher.

"agora, também sou daqueles velhos que não sabem dosear o perfume.
ponho sempre demasiado.
fico insuportável à vizinhança. eu sei. 
acabo de reparar.
é a terceira vez que reparo.
é a prova final da idade.
sou outra pessoa. gosto muito.
só quem não tem a oportunidade de mudar é que deve lamentar-se"

 - Walter Hugo Mãe -¹




Interessante o que o autor disse sobre si.
Fiquei aqui quieta, pensante, interiorizando-me tanto que virei-me quase do avesso.
Justo porque comigo
está acontecer o oposto.
E deliciosamente maravilhoso
Estou ficando daquelas senhoras
que não se perfumam em demasia.
Criança, cheirava a bala de goma, lima da Pérsia e hortelã.
Depois vieram as suaves lavandas.
E adolescendo vaidosa,
os franceses me conquistaram
Chanel n° 5
Givenchy
Dior
envolviam-me nos meus passos.
Há tempos atrás,  alfazema.
Almiscar até o repúdio ao crime ao animal.
E o tempo passando,
apurando meu olfato,
meus sentidos mais vitais
me alertaram:
atentei para um sutil detalhe:
qual a necessidade de
se usar desodorante,
destes anti - transpirantes,
pois que faz  mal à saúde o não suar.
E à noite, ao dormir,
somos o frescor do luar .
E reencontrei a mulher
que chegou mais longe
que a menina.
Conquistou o tempo da vida.
São as meninas, todas elas, perfumadas de aromas de frutas.
Adolescente , num processo químico acelerado fui essência de cítricos.
Tornara-me azeda ou doce , dependendo do humor.
Talvez mais yang, mais afirmação da complexidade do ser, crescer e escolher

Voltando assim, no oposto ao homem velho,
que não sabia dosar perfumes externos,
fui adentrando bem mais fundo na pele,
parece que retornando à infante idade;
sentindo na pele o meu próprio aroma.
Delicioso, meu cheiro é made my self
E vi,  pelas deusas,
que eu ando tão perfumada.
O meu perfume sou eu,
tenho um cheiro de flor
e muda com cada novo olhar meu
e com a a cor do meu acordar.
Mimetizo-me:
planta, mata
animal, bicho:
sou a loba,  a águia , o  beija - flor
Sou cheiro de liberdade interior,
vezes com o jeito gostoso
da nascente do rio - mar
Sou o cheiro
da intensidade
que vibra
e acende
ao toque da pele
do meu companheiro e amor!
E descobri que minha mudança foi toda dentro de mim.
Eu  voltei a ser eu - ressurgindo em perfume menina -mulher.
E como isso é bom!
Sou eu o meu perfume de mulher!

Maria Izabel Viégas


¹  in Página Oficial do escritor no facebook
Imagem: Google

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A coragem de Clarice ao orar.



"Meu Deus, me dê a coragem"

"Meu Deus,
me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo
e receber como resposta o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços meu pecado de pensar."


Clarice Lispector


Quando li este poema, fiquei a imaginar a torrente de seres que devem ter se escandalizado com tal prece . 
Heresia!!!???
E é justamente por ser eu tão crente e amante a Deus que vejo a grandeza do Ser que é autêntico quando fala com o Pai.

O ser humano sofre de mil dúvidas.
A dor dói.
E a dor da alma sofrida teme, se lamenta,
chora, procura, clama, suplica,
assim como os versos de Lispector.

Mas tem medo de falar em voz alta.

Quem vale mais, que ser tem mais valor perante a Deus?
Todos, com certeza:
os que creem e os que tem dúvidas.
Pois que se o Pai é Amoroso,
e eu acredito que é...
há de ouvi-los com a grandeza que Ele tem!

Nunca se deve discutir religião... 
é o que mais escuto.
E logo após já estão se analisando isto ou aquilo...
cada um dentro de sua visão e não cedendo nem um ceitil.

E aqui eu me rendo a ti, Lispector,
pela coragem de pensar
Pela coragem de falar
com Deus o jeito teu de ser
como teu coração necessitava.

Oh, Senhor da Vida, 
como acredito que escutaste esta prece 
e a compreendeste,
pois Tu és o Caminho, a Verdade e a Vida!

E finalizo com mais palavras de Clarice:

"Não se preocupe em entender. 

Viver ultrapassa todo entendimento."

Abençoados sejam todos aqueles
que têm o pecado de pensar...
creio que seja a nossa imensa coragem de pensar!
E é este tesouro que nunca será usurpado de nós.

- Maria Izabel Viégas -

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Não calar ou viver para sempre?




 Não Calar

"Há uma regra fundamental quando se vive como nós estamos a viver 
– em sociedade, porque somos uns animais gregários – 
que é simplesmente não calar. 
Não calar! 
Que isso possa custar 
em comunidades várias 
a perda de emprego ou más interpretações 
já o sabemos, 
mas também não estamos aqui 
para agradar a toda a gente. 
Primeiro, porque é impossível, 
e segundo, porque se a consciência nos diz 
que o caminho é este 
então sigamo-lo 
e quanto às consequências 
logo veremos. "

-  José Saramago - 

E sabes que isso não é nada fácil?
Sabes o quanto dói e fere o peso da opinião dos outros 
que desde cedo te ensinam a falar apenas aquilo que querem ouvir?
Que peso imenso colocas sobre minhas costas já tão cansada!

Quem tem sonhos e premonições 
sabe que é preciso calar, 
é alvo de críticas .
Loucos, assim te chamam.
És a criança esquisita que fala sozinha.
Que previu a sorte ou a morte de alguém, cala-te!
Pois sereis julgada como bruxa, 
numa hodierna inquisição de egos.

Como falar sobre lucidez 
quando se assiste a grupos 
que dançam 
e profetizam 
e só tu vês 
que ali nenhuma 
força espiritual 
está manifesta.
Que é tudo frenesi doentio?

Como não calar-se frente à ferrenha estupidez do homem na vida de tua nação?
Que voz é a tua que nunca é a que vence as contendas?
Que vence quem é o menos pensante!
Que vence o que mais tesouros roubou como os antigos senhores feudais?

Como fazer para engolir todos os sons de indignação, 
que te sufocam a mente, 
que magoam 
e ferem o teu coração?

Calar-se é mais cômodo, 
é vital para evitar confrontos 
pois ninguém acredita em ti!

E num assombroso retorno a vidas pretéritas,
vive-se o mesmo 
o mesmo,
e no mesmo,
vamos adoecendo,
morrendo aos poucos,
pois a cada ato 
que faz mal 
e que falas o que 
o povo quer ouvir:
mentiras que a vida está boa,
que o arco - íris é real
e que só ele te basta para tua sorte. 
E que te basta o pôr do sol!
Quem disse que me basta 
o sol nascer ou adormecer,
se não posso bradar 
neste espetáculo - festa,
que o rei passou por todos, 
numa carruagem de fogo,
flamejante ,
mas totalmente nu!

Tu te calas, 
morre a voz, 
morre a força,
morre em vida tua alma!
E se não te calas, 
te matam, 
se morre excluído, 
exilado!

Essa é a consequência da lucidez: 
matam tua voz!

Desta vez,
Outra vez, 
Mais uma vez,
Até quando? 

- Maria Izabel Viégas -

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Participar da obra divina e desvelar mistérios



"Repara, amigo: o mundo, os homens, a paisagem...
Tudo é símbolo.
Um símbolo nada consegue ser se não puder manifestar a alguém o seu significado, 

se não puder desvelar aquilo que ele oculta...
Desvelar é desafio.
Descobrir o que o véu esconde é experiência redentora.
É ação criadora.
É participação na obra e nos mistérios Daquilo
que, embora Onipresente,
ainda não conseguimos ver."
 

- Prof. Hermógenes -

Nada podemos saber sobre o que virá nos tempos que estão chegando.
Podemos prever apenas por aquilo que somos.
É o nosso foco de olhar a vida que determina o como passaremos por um acontecimento novo.
Podemos fazer previsões, sim, os astros me ensinaram que vamos passar por experiências boas ou nem tanto.
Mas nada garante que aproveitaremos ou não o aprendizado oculto nestas.
O que garante no amanhã é o como conduzimos nossa vida até o agora.
Somos valentes o suficiente para entrar no oceano e nadar
ou seremos aquele que naufraga porque desiste antes do tempo?
Estamos sempre nesse oceano de mistério que é a Vida.
Temos à nossa frente todos os símbolos maravilhosos do nosso universo.
Que saibamos desvelar os caminhos que nos trarão a felicidade.
Que saibamos que estar aqui, vivos, nessa paisagem,
a conviver com os iguais e os contrários,
a ter olhos para avistar o belo,
o imenso poder de discriminar o bom do ruim,
e escolher aquilo que faz bem à nossa vida,
que nos conecta à nossa alma...
é esse meu desejo!
Que todos nós, amigos queridos, saibamos desvelar os mistérios.
Que vivenciemos a experiência redentora de desvelar nosso próprio segredo, nosso mistério.
E assim, cônscios de quem realmente somos e do que almejamos,
estar aptos a ver o mundo
em todo o seu esplendor!

 É assim que eu desejaria 
que começassem 
todos os dias,
todos os anos, 
todos os recomeços 
em  novas vidas:
ter olhos para enxergar 
além do invísivel 
ir desvelando
descortinado os véus
 sem temer 
o incognoscível...
agradecidos pela graça 
de ser parte 
desse belo mundo!



- Maria Izabel Viégas -