Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O dia que acordei para...o Além da Vida II



Num dez de julho ele nasceu...
eu ainda não o conhecia!


Num dez de julho ele se foi...

neste dia eu...
já o amava e o conhecia.


Acordei e já tinha partido, viajou, disseram que morreu, por um instante-tempo- que não me lembro, acreditei. Morreu.

Ali estava o corpo envelhecido, suave e lindo pois era meu pai.

Foi neste dez, um dia em que acordei...
com ele caminhando para a Vida Eterna.

Como aquele coração tão doce.
Como aquela voz puro carinho, inteligência brilhante, cultura tamanha, dedos que saltavam mágicas notas musicais, olhos ora verdes ora azuis.


Tinha um sorriso maroto quando mentia para mim.

É, ele mentia, ... para que eu não sofresse, para que eu não tivesse medo.
Cai um dia ao chão e ele abraçado a mim, explicava-me que nada acontecera comigo... eu assustada, pois senti meu coração, meu estômago... pulou dentro de meu corpo, estavam fora do lugar!
Contou-me a história dos "órgãos do nosso corpo que flutuavam" e eu me acalmei,
era verdade, naquele instante mágico,
todos meus "orgãos flutuantes" voltaram para o seu lugar, não havia mais... a dor do susto.
Amado mentiroso!

Tudo isto, que eu com meus olhos e sentidos físicos "via", não poderia ter um destino: o solo feio daquele lugar "vazio"que o acolheria.
Impossível!
Para que existia então a vida...para ir para o vazio?
Isso minha pequena alma se recusava a crer... e até hoje me recuso!
Para que nascer e morrer, para ir para o nada?
Ensinaram-me na religião que havia um céu e um inferno.
Estranhamente em mim isso soava como: Nada.
No calor das chamas não ficaria, era o meu pai!
E será que ficaria num alvo céu, cheio de anjos, sem direito a ver Deus pois ninguém tinha o direito de vê-Lo, sem fazer nada pelo tempo eterno. Isso me disseram.

Pois que era meu pai, e era tudo para mim... aquele céu de descanso por todo o sempre lhe seria pouco...

muito pouco para um grande homem cujo amor a vida e ao trabalho era imenso.

E aquela beleza toda, iria ficar enclausurada na terra fria?
Bondade, inteligência, alegria, caráter, afetividade não se enterram, não morrem.
Para onde teria ido meu pai?
Procurei-o nas tristonhas árvores que se mexiam ao nosso redor, não o via.
Perguntei ao vento, mas este, frio... não respondia.
Fiquei todo o tempo ao seu lado... calada, quieta, mas minha cabeça não admitiu a morte.

A partir daquele dia... descobri que a Morte Não Existe.
Não como acredito hoje, não.
Foi com o meu "sentir"- menina... que da vida muito pouco sabia e que dirá da morte e renascer! Ali começou minha Crença.
Começava pela dor a conhecer estes caminhos.

O céu se abrira para recebê-lo, disseram...
ah! e eu fui em pensamento atrás dele... haveria uma forma de estar com ele?
Uma passagem secreta,
um buraco no ar,
uma nuvem...
que código eu usaria?


Enfim, neste dia, surgiu em mim os sentimentos,
as lembranças do lugar que vim...
o "outro lado"
,
daquele "lado" que os céticos dizem que não existe, querem provas.

Provas?
Provar o quê?
Para quem não acredita, não temos que provar nada!
Um bom ateu me perguntou:
-Que provas tens que Deus existe?
E eu, lhe respondi: - nenhuma!

Pois hoje não quero que ninguém seja como eu,
não dou um passo na direção de explicar algo a alguém que não acredita;

se até agora não entendera,
melhor dizendo: nunca "sentira"...

nenhuma prova preciso dar de minha crença e fé.
Ninguém e nada convence ao cético.

Deixei-o a falar sozinho,
pois pressenti que ele queria argumentar seus porquês , seus nãos!

Fiquei presente, ouvi-o, mas retrucar, nunca!

Só fiz, depois do tempo necessário que a educação me permitira, uma pergunta:

-Como sabe que sua esposa o ama?

- Ora, porque sim!
- E como sabe que sim?

E veio com razões de expressões puramente materiais, disfarçadas de nome" sentimento" da sua amada que em nada provava que... ela o amava.


Fingir é fácil.
Pode se dar um beijo falso, servir a alguém por motivos próprios,
esperar este alguém até tarde, mostrar preocupação, lavar toda sua roupa,
fazer os mais ricos quitutes e colocar na sua boca

e não teremos ainda provas do amor que existe no coração do outro!

Posso sim, falar do amor que "eu" sinto!


Acabou-se a prosa.
Ele convencido da presença, da certeza de um sentimento que "ele não sente", que está no coração do outro.
E eu ... que nada tinha de provar, na minha paz fiquei.
E ele convencido, acreditando em algo que também não podia ter provas que existe!

E eu... que de Deus não sinto falta.
Não preciso de provas...
Ele está mim, me nutre a alma!


Aprendi a acreditar que existe vida após a morte num dia dez...
e por minha caminhada pela vida
fui cada vez mais me recordando

de que eu também viera e vou
para um lugar que creio que existe.


E que tudo que existe, aqui e lá, são provas vivas "para mim" que Deus existe.


Que nasci, estou vivendo e que morrerei - é o mais certo e previsível:
deverei despir-me deste trajes que uso nesta vida,
deixarei aqui nesta terra,

mas estarei ainda viva,
talvez pronta para renascer...

se for os caminhos que minha consciência - eterna alma me apontar
como possíveis e necessários para minha evolução.
Simples.

Isso que agora creio...
não aprendi num dia dez,

talvez tenha sido em séculos ou milênios, quem sabe...

Pois não é com a razão que se crê.

É com o "Sentir".
E este não se explica...
sente-se apenas!
Simples, não é mesmo?
É, eu acredito!

8 comentários:

Graça Pereira disse...

Eu tambem acredito...sente-se e não se explica. Um dia um garoto na catequese perguntou-me:" Como sabemos que Deus existe? Eu não acredito!"

-Qual a disciplina que tu mais gostas? Geografia, disse-me o garoto!
-E és bom aluno? Sou, disse orgulhoso!
-Conheces os senhores que escreveram o teu compêndio? Não...
-E como acreditas que eles existem? Ficou atrapalhado.
-Eles dizem verdades? Mais engasgado...
-Pois é, quem nos fala de Jesus, de Deus foram pessoas que conviveram com Jesus... e nós acreditamos com a mesma fé que tu acreditas nos senhors que escreveram o teu livro de Geografia e que tu não conheces...
-Sabes, a fé ou se tem ou...não!
Nunca mais faltou a nenhuma aula de catequese!!
Beijocas
Graça

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

EU TAMBÉM ACREDITO E SINTO SUA PRESENÇA EM TUDO QUE É BELO!
CHOREI LARGADA...LEMBREI DO MEU PAIZINHO...ACHEI LINDO!!
BEIJO

Regina Rozenbaum disse...

Creio e esse despertar já se fez há tempos. Emoção jorrada ao ler-te iluminada...como sempre!
Beijuuss n.a.

Élys disse...

Um texto perfeito. Crer é sentir...Se estou vivo, se sinto as mais diversas sensações, eu creio que existo. E o que é a vida?...A vida é uma energia que se pode chamar de Deus.
Beijos.

Beth/Lilás disse...

Coisa mais linda esta sua narrativa, fiquei aqui emocionada!
Pois eu também creio neste Deus que habita em mim e em todos nós, mas não forço ninguém a acreditar no mesmo que eu, só não gosto se me desacreditam, pois eu bem sei o que tenho guardado lá dentro de mim.
um beijo grande, carioca

Lua Nova disse...

Quando vc fala, minha amiga, com essa tua certeza inspiradora, me pergunto como posso ter tantas dúvidas? Acho que tudo se resume em medo, um medo estranho e incompreensível que acaba saindo pela culatra e me tira as esperanças, já que eu acredito que ter fé é ter esperança, é acreditar na vida.
A verdade é que a fé lhe cai bem...rs, quero dizer, a generosidade e a beleza da tua alma são tão evidentes nas tuas palavras que é fácil acreditar que Deus está em vc. Teu texto me arrancou lágrimas, pois é claro, me fez pensar no meu pai que se foi num dia 11 de fevereiro e levou com ele uma boa parte de mim. Ainda bem que ele deixou comigo uma boa parte dele. Apesar de todas as minhas dúvidas, todos os dias converso com ele e desejo de todo o coração que ele esteja bem e feliz... rs. Eu sei, é um contrassenso, mas sou assim desde que me conheço por gente, então, tudo bem.
Gosto de vc, gosto do teu jeito de ser, gosto de ler o que vc escreve.
Gosto da tua sabedoria e do respeito que vc tem pelos que são diferentes de vc.
Beijokas e meu carinho.

pimpampum disse...

Querida Izabel,

Abri o teu blog e as tuas palavras vieram em total sintonia com o que o meu momento.

Obrigada com carinho...!
Joana

Clara Lúcia disse...

É tão simples mas alguns conseguem não enxergar e não sentir. Pena!
Eu sou uma pessoa indagadora, e nunca me satisfaço com apenas uma explicação. Fui tirando minhas conclusões sobre o assunto aos poucos, qdo as coisas começaram a me intrigar. Eu só perguntava... Como assim tudo acaba aqui? Será que Deus fez um esforço imenso pra durar tão pouco? Não acredito nisso não!

E apesar Dele quase nunca ser mencionado por meus pais durante minha infância, eu O sinto muito perto de mim sempre. E sei que me ama muito!

Beijos, querida!