
"Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita.
Ele concordou.
Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
"Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"
"Não, não sabemos", responderam em uníssono.
"Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isto é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa.
Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração.
Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.
Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
"Sim, sabemos."
"Neste caso", disse o Mullá, "não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora".
E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
"Sabem ou não sabem?"
A congregação estava preparada.
"Alguns sabem, outros não."
"Excelente", disse Nasrudin, "então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimentos para àqueles que não sabem".
E foi para casa."
( Fonte: Livro "Histórias de Nasrudin" - edição Dervish)
E como é difícil para nós, ocidentais, entendermos estas mensagens.... educados desde pequenos a falar e muito. Inicialmente recebemos estímulos que desenvolvam nossas percepções visuais , auditivas e táteis, conduzindo a um melhor desenvolvimento intelectual; pricipalmente, nas fases da pré-infância.
Tão logo as crianças aprendem a ler e distinguir os sons. a ler... cortamos todas as atividades que as cerquem de beleza; deixam de olhar as flores mais belas, brincar livres, o lúdico em segundo plano.
Já começam a ser adestradas, preparadas para um ensino competitivo.
São reeducadas a não mais olhar para as mais importantes e mais simples coisas que trarão de volta a pureza, a sensibilidade que trouxeram na sua bagagem a estas terras chegarem.
E quanto a nós, adultos, mal alguém responde à uma pergunta nossa, mal refletimos sobre a resposta; já está na ponta da língua , outra e mais outra pergunta. e nos sentimos o quanto somos "espertos" .
Cada vez mais intento refletir sobre o que me falam. venho há muito me treinando a simplesmente - ouvir. E captar a mensagem proferida, sem a intervenção da minha idéia pré-concebida.
A palavra é do outro, não minha. Escutar é sinal de respeito.
Em tribos indigenas norte-americanos há a tradição da passagem do bastão.Todos esperam, não interrompem... a voz e vez é do portador do bastão; este passará de mão em mão.
É... bem que podíamos copiá-los neste cerimonial.
Há muito que aprender... hoje sei que é mais pelo silêncio, pela observação do que nos rodeia, das energias que captamos que chegaremos a atingir um grau maior de compreensão e evolução espiritual.
Ouvi há algum tempo de um companheiro num grupo de estudo, ao responder a dúvidas de outro que "aquilo que estava sendo discutido não era a doutrina, pois que a doutrina diz "X" , e que tivéssemos uma "certa" condescendência, pois tudo eram conceitos de "seitas" , de pessoas que seguem o Budismo, o Hinduismo.
Infelizmente, meu pobre "eu inferior" não se conteve, toquei-lhe com a mão suavemente e perguntei bem baixinho : Budismo e Hinduismo são seitas?
Mais de três, cinco mil anos A.C ... "seitas"?
Pensar...refletir...ponderar...agir... respeitar!
Onde está a Verdade, quem é o portador da Verdade?
E se é o portador, já é um emissário... não é a Verdade.
Devemos ao perguntar, analisar o que quer saber realmente;
Interessante, muitas vezes, temos já as respostas em nós , perguntamos como infantes...
muitas vezes, só para re- alimentar o nosso ego.
Urge ir domesticando o leão que ruge ao sermos contrariados...
ao confrontarmo-nos com uma opinião contrária à nossa.
"Ó Derviche, quando aprenderei pelo silêncio a Sabedoria das Palavras, o Verbo Sagrado?
Quando e o quanto terei de penar na cegueira que eu mesma me impus?
Até quando terei que sofrer dores e desilusões?
Senão serei sempre como os "espertos tolos" da congregação de Nasrudin."
Tenho compreendido muito mais...deixando-me entregue ao nada.
Nestes momentos me invade uma felicidade e paz,
e uma compreensão do todo... pelo não dito.
"Sinto" as energias...
e é como se todo meu ser fosse conduzido para além,
fora dos limites do tempo, do espaço...
caminhando para outras dimensões!
Minha alma clama e me aconselha: escuta o não ser... sendo.
"Somos ainda crianças a querer a Resposta, esquecendo que o mais importante é a Pergunta."