Ah, Clarice... Como te entendo!

"Não entendo.
Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado.
mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como simples de espírito.
O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha,
como ter loucura sem ser doida.
É um desinteresse manso,
é uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação:
quero entender um pouco.
Não demais,
mas pelo menos entender que não entendo."

- Clarice Lispector -

Pelo menos , Clarice, não estou sozinha naquilo tudo
que também conheço ou que desconheço.
Tem dias que sinto que há muito mais
que uma simples desorganização
pairando no ar que envolve o mundo.
São pensamentos e ações controversas
no âmbito social, político , religioso.
São pessoas que têm tantas certezas,
tantas teorias, palavras bem ditas e mal ditas...
há tanta controvérsia e descaminhos.
Há tanta beleza no amanhecer,
na flor que desabrocha,
no sorriso do meu filho,
no olhar de um estranho,
no apaixonado beijo do meu amado.
Há beleza no sofrer e no des-sofrer.
Pois em tudo há opostos, eu o sei.
E é assim desde os promórdios do mundo.
Tem vezes que me sinto uma criança tão pequenina
Tem vezes que sou o sol, sou a lua, sou todo o firmamento.
Tem vezes que estou ainda aconchegada
na escura concha do útero materno.
Tem vezes que sou um gigante, a coluna de um templo,
Sou montanha, sou cordilheira.
Preciso e quero entender,
preciso e quero não entender.
Clarice...
somos normais
Penso que sim...
Fica o benefício da dúvida...
ou a imensa e doce calma da ignorância.
Só sei que não nasci para ser profeta de um mundo louco.
Preferia ter nascido poeta de uma iluminada e encantada terra.

... nasço de novo!