Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Você me ouviu ... ouviu... ouviu...





"O principezinho escalou uma grande montanha. 
As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que lhe davam pelo joelho. 
O vulcão extinto servia-lhe de tamborete.
"De montanha tão alta, pensava ele, verei todo o planeta e todos os homens..."
Mas só viu agulhas de pedra, pontudas.

- Bom dia, disse ele inteiramente ao léu. 
-Bom dia... Bom dia... Bom dia... respondeu o eco. 
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... respondeu o eco. 
-Sêde meus amigos, eu estou só, disse ele. 
- Estou só... estou só... estou só..., respondeu o eco. 
"Que planeta engraçado! pensou então. 
É todo seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor: e era sempre ela que falava primeiro"

Antoine de Saint - Exupéry"
in "O Pequeno Príncipe"
cap. XIX

E ele se recorda do seu tanto desejo de crescer. Era um feijãozinho perdido na sua família, o último a opinar. Todos falavam primeiro que ele. Tudo era tão dividido, queria mais. Sempre a parte melhor não era sua.
E ia ficando para trás, ninguém escutava qual sua cor do carrinho favorita, nem que odiava ervilhas.
- Quem sabe quando for "alguém na vida", ter sucesso, trabalhar, ter muitos bens, serei eu a falar e os outros todos do mundo me ouvirão?
Esquecia que eram muitos, sua matilha não passava fome e que tinha brinquedos e ervilhas. E muitas vozes que lhe falavam. Ele é que nunca aprendeu , talvez, a ouvir.
Ele via o mundo do seu jeit, olhinhos fechados, não conseguia perceber que, sim, na verdade, havia sempre um olhar a ele dirigido, esperando a sua voz.

O homem já feito era o "alguém", saira do ninho.
E foi subindo cada vez mais alto, escalando, escalando.
E a cada lugar que passava , seguia o que ele tinha "percebido" no seu pequeno mundo.
E em cada lugar era só a sua voz que ecoava.
Era só a sua verdade, o seu olhar ... sempre o mesmo.
Já que ninguém o deixara falar que agora, escutassem e se, possível, obedecessem.

E um dia, percebeu o quão triste era a sua vida: cercado de pessoas que só diziam: sim , sim, sim.
Ninguém lhe respondia, apenas ouvia.
Foi isso que lhe ensinaram.
Foi isso que viu com os olhos que trouxe para esta vida.
Olhos que só enxergam a si mesmo.

E veio a mim, pois não suportava mais tanta solidão.
E me perguntou: Por que isso acontece e aconteceu comigo?

E eu, um certo dia, pedi que ele fechasse os seus olhos.
E que dissesse a cor dos meus.
Só!
Ele... depois de tanto tempo, me perguntou, surpreso:
- Eu não sei!!! Que cor tem seus olhos?
Nunca os vi.
Perguntei se ouvira os meus Bons Dias.
Não se lembrava...
Se percebeu há quanto tempo estávamos conversando.
E o que eu lhe falara.
E que eu estava lhe escutando atentamente, há tanto tempo...
Não... nem percebeu.
Ele crescera num mundo seco, pontudo e salgado, pode até ser...
Mas nunca havia tentado parar de ter pena de si mesmo,
e simplesmente, falar:
- Ei, estou aqui!
E quando o fez, buscou subir tão alto, e se acostumara a só ouvir a si.

Assim muitos chegam a nós a reclamar dos seus afetos,
mas nunca pararam para ver a cor dos olhos, nem ouvir opiniões contrárias.

E assim, fomos juntos, numa viagem de volta, de trás para frente,
a redescobrir nas suas lembranças, os rostos, as vozes, a recontar histórias suas...
e ele, de novo, feito pequenino,
num ponto reencontrou o dia
em que o 'seu' menino aprendeu a ser salgado, pontudo e seco,
como pensara que o mundo sempre foi!

Há quem diga por aí que, entre nós, moram pessoas que mesmo juntos a tanta gente, ainda hoje, aqui neste mundo, só gostam de ouvir os ecos seus.

*** Na verdade, essa pessoa existiu e o que ela nunca havia percebido é que , muitas vezes, ela afirmava que pessoas não lhe olhavam, pois "ela"estava sempre de costas,
sempre e a cada vez mais,
olhando só para si.
Julgava o que não via, criticava sem ver, sem ter certeza.
Até o dia que descobriu, num misto de espanto e de alegria,
que morava num planeta pequeno, havia vulcões, sim,
mas nenhum lhes fez tão mal assim, até lhes serviram de assento;
e que lá não morava só uma rosa,
Na verdade morava ela num jardim com rosas multicores.
E que eram lindas.
Precisavam apenas que ela as olhasse,
que aprendesse a olhar
e a ouvir aos seres também!!!!
.

E foi, mais ou menos, assim...
Um dia a vida ensina...
Outro dia a gente aprende...

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