Já poetiza Leminski:
"Nuvens brancas
passam
em brancas nuvens."
(in livro "Toda Poesia")
Dizem alguns que em pequenos frascos se encontram perigosos venenos,
outros, refutam, que neles se armazenam os melhores perfumes.
Aqui o poeta simplesmente colocou os dois:
o perfume e o veneno.
O aroma da simplicidade, a de sintetizar toda uma filosofia de vida.
Sim, ele nos fala do nosso modus vivendi.
Quando tudo está bem, quando a felicidade alegra nossos dias nem nos damos conta de agradecer pelas benesses. Orar agradecendo aos poderes supremos o fato de que a vida anda sem tropeços.
Todos em astrologia falam do potencial de Júpiter, o Grande Benéfico.
Se estamos com o planeta num aspecto favorável, conseguimos agregar sorte,
dependendo de que planeta e quais os assuntos que ele toca.
Só que é nessa hora que nossa natureza distraída cai em armadilhas feitas por nós mesmos.
De tanta sorte, deixamos passar oportunidades.
E, lá se vai o tudo de bom pois, afinal, o mundo gira, os planetas vão em frente.
As nuvens brancas são sopradas pelos ventos e ficamos a procurar carneirinhos no céu,
esquecidos de obrar, laborar, agir.
Chega uma oportunidade de emprego: uma, duas, três e deixamos passar,
na certeza de que tudo tudo vai dar certo.
Na música até que vai!
Mas na vida temos que aprender a aproveitar as oportunidades.
Prestar atenção ao que chega às nossas mãos.
Saber entender os sinais.
Se não, vamos ter que aprender é quando o vento, esse ardiloso senhor, começa a soprar mais forte trazendo as tais nuvens negras.
As quadraturas, as oposições, os tracinhos vermelhos muito malvados, como dizia um amiga, que odiava os vermelhos!
Como se os vermelhos, ou seja , os problemas, as nossas próprias dúvidas e incertezas e os obstáculos que outros nos colocam à frente não fossem agentes de mobilização!
Essa amiga tinha um mapa natal cheio de trígonos e sextis, tudo lhe era facilitado
e ela, insatisfeita, reclamava da vida!
Chegava o leite e ela reclamava que estava frio. Que ainda tinha que esquentar.
Ora ora ora!
Se não aprendemos com as coisas boas da vida, vamos ter que seguir o aprendizado pela dificuldade, repetindo os mesmos erros até que ele vire acerto.
O veneno contido está justamente na displicência com que nos acomodamos em receber sem prestar atenção na mão que nos oferece ajuda.
Esquecemos de agradecer.
E, ao primeiro sinal de problemas, nos revoltamos.
A lição para esta que aqui fala é que lá por cima das nuvens negras mora um céu azul e brilha o sol.
Que eu, meu sol, minha essência, meu eu estou sempre acima dos cumulus nimbus.
Que no céu daquele dia eu posso estar a sofrer, mas que eu sou aquele que vai se deixar abater ou não.
Que vou optar por abrir buracos no meu eu interior e deixar reluzir o sol que brilha em mim.
Bem, tem dias que dá certo.
Tem outros que fico totalmente azarada e encharcada.
Mas, caramba, não nasci para ser comandada por nuvens negras.
E nem para ficar apenas contando as branquinhas, embora as contemple com a devida alegria, são boas e nos despertam prazer.
Nasci para ser melhor do que fui na outra encarnação!
E, contabilizando
perfumes e venenos,
certa de que estou no meio do caminho
eu só sei que...
Desistir Jamais!
- Maria Izabel Viégas -