Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O barco da minha viagem


Ao renascer
vim navegando
nos mares do inconsciente
no meu barco.
Transcendental
transporte
de ida e volta,
na viagem da vida.
Ninguém o percebeu
quando aqui aportei
nem eu me dei conta
de que lá ele está
a me esperar,
pacientemente ancorado
em algum ponto
invisível aos olhos
até mesmo, aos meus olhos;
à medida em que fui
conscientizando-me
das coisas da alma,
sentindo-o cada vez
mais em mim.
Veio acoplado ao meu corpo
é meu corpo!
é meu perispírito,
meu corpo astral,
é minha alma manifesta
nas profundezas,
na plenitude éterea
do meu ser.
Certo dia,
num lampejo,
em meditação,
desvelou-se a mim.
Ligeira e clara visão,
primeira e a única
que me foi permitida.
Parece que só o vemos uma só vez;
parece que no exato instante
em que realmente
pelos mistérios da fé
acreditamos
na magnitude
da vida eterna.
Não mais o vejo
Apenas o sinto,
envolto em névoas,
puro êxtase.
Ancorado sobre alvas pedras,
tranquilo, paciente,
a me esperar...
Quando nasci havia um sol de amanhecer,
foi o que eu soube...
Depois e por toda esta vida do agora
quem reina é um sol poente de beleza divinal.
A vida é como a passagem de um rio,
ora ventos fortes,
ora brisas amenizantes e frescas;
vezes águas límpidas e calmas;
vezes águas turvas e agitadas.
É o meu ser quem decide
se meu barco
será molestado pelas intempéries,
é meu livre-arbítrio
quem decidirá calmarias ou tempestades,
minha alma perene é quem sabe meu destino,
meu coração comanda a decisão de navegar,
o tempo da ancoragem é meu governo.
O comandante desta nave é Deus, eu o sei!
O navegante sou eu...
A mim e de mim depende o quando
ele me transportará...
Enquanto estiver eu a nadar nas águas do rio,
meu barco estará lá
sempre plácido...
No final, quando a viagem deste lado terminar
Já estarei navegando,
amparada, acolhida com amor
pelo barco da existência
rumo ao mar da eternidade.
Ouço na voz do vento:
Não se preocupe,
apenas viva, ama e confia,
siga o seu coração...
siga o seu coração...
confia, ama e viva!

Maria Izabel Viégas

* desconheço o autor da imagem, se o souberem,
por favor, me avisem, para colocar aqui seus créditos.



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Leonardo Boff _em memória aos mortos de Santa Maria



Minh'alma em silêncio entende os penares da dor do mundo.
Meu coração sofre a dor das mães e pais que choram, uno-me a eles.
Minha voz não consegue se soltar...
Não consigo consolar neste momento àquela pessoa que perdeu um filho seu.
Meu silêncio é meu ósculo, meu afeto, meu abraço, meu amor...

Encontro em Leonardo Boff
a palavra que expressa líricamente,
na mais pura expressão da religiosidade,
todo amor e respeito aos jovens
que partiram neste acidente triste acontecido
no Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Maria.

Fonte: Blogue do teólogo Leonardo Boff _ link aqui :


"Mínima Theologica: em memória dos mortos de Santa Maria"

"Os antigos já diziam:
”vivere navigare est” quer dizer, “viver é fazer uma viagem”, curta para alguns, longa para outros. Toda viagem comporta riscos, temores e esperanças.
Mas o barco é sempre atraído por um porto que o espera lá no outro lado.
Parte o barco mar adentro. Os familiares e amigos da praia acenam e o acompanham.
E ele vai lentamente se distanciando. No começo é bem visível. Mas na medida em que segue seu rumo parece aos olhos cada vez menor. No fim é apenas um ponto.
Um pouco mais e mais um pouco desaparece no horizonte.
Todos dizem: Pronto! Partiu!
Não foi tragado pelo mar.
Ele está lá, embora não seja mais visível.
E segue seu rumo.

O barco não foi feito para ficar ancorado e seguro na praia. Mas para navegar, enfrentar ondas, vencê-las e chegar ao destino.
Os que ficaram na praia não rezam: Senhor, livra-os das ondas perigosas, mas dê-lhe, Senhor, coragem para enfrenta-las e ser mais forte que elas.
O importante é saber que do outro lado há um porto seguro. Ele está sendo esperado. O barco está se aproximando. No começo é apenas um ponto levemente acima do mar. Na medida em que se aproxima é visto cada vez maior. E quando chega, é admirado em toda a sua dimensão.

Os do porto dizem: Pronto! Chegou!
E vão ao encontro do passageiro, o abraçam e o beijam.
E se alegram porque fez uma travessia feliz.
Não perguntam pelos temores que teve nem pelos riscos que quase o afogaram.
O importante é que chegou apesar de todas as aflições.
Chegou ao porto feliz.

Assim é com todos os que morrem. O decisivo não é sob que condições partiram e saíram deste mar da vida, mas como chegaram e o fato de que finalmente chegaram.
E quando chegam, caem, bem-aventurados,
nos braços de Deus-Pai-e-Mãe de infinita bondade para o abraço infinito da paz.
Ele os esperava com saudades, pois são seus filhos e filhas queridos navegando fora de casa.

Tudo passou. Já não precisam mais navegar, enfrentar ondas e vencê-las. Alegram-se por estarem em casa, no Reino da vida sem fim.
E assim viverão para sempre pelos séculos dos séculos."

Autor: Leonardo Boff , em memória dolorida e esperançosa dos jovens mortos em Santa Maria na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Minha amiga de 85 anos, re-encontro feliz.




Conheci este texto através do amigo astrólogo António Rosa do Blogue Cova do Urso, li-o no facebook. Sou-lhe grata...

"Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar... a fonte das alegrias da vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...). 
O dinheiro não era nada, o poder não era nada. Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz. A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente. Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer. 
A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito. 
Mas amar e desejar não é a mesma coisa. O amor é o desejo que atingiu a sabedoria. 
O amor não quer possuir. 
O amor quer somente amar."
* Hermann Hesse *

Ontem encontrei na rua uma amiga que não via há muito tempo, uns quinze anos. E moramos perto, imagine, bem, não tão pertinho assim.
Ela na verdade nem me reconheceu, eu sempre tive cabelos muito curtos,usava óculos e não era loura.
Dei-lhe um abraço daqueles bem gostoso, e ela me disse:
- Eu te conheço, mas não me lembro, desculpa.
Rindo, falei-lhe uma palavra mágica: Thor.
Abriu-se um sorrisão. Era eu, de novo!
Thor era meu cão pastor alemão manto negro, ela é veterinária, já agora aposentada pois está com problemas de audição, não consegue auscultar os animaizinhos, segundo ela.
Essa senhora atualmente está com 85 anos!!!
Levávamos nossos cães, Thor e sua companheira Shanna no seu sítio lindo aqui no bairro. E era um furdunço. Todos no sítio ( moravam em quatro casas suas irmãs e respectivas famílias.) Meu cão era novinho e o 'descobrimos' muito brabo com estranhos. O toque mais marcante é que ela tinha adotado um menino pequenino, e este contava os dias para ver, de longe, o meu cão. Ele adorava , gritava feliz quando via o Thor. Contava ela que perguntava quase todo dia: Mãe, o Thor vem hoje?
Era muito comédia, pois para vaciná-lo, tinha que o meu marido segurar, acariciando a cabeça dele, pelo lado de fora da porta do consultório. E a outra parte do corpo ficava eu, dentro, abraçada com ele, prendendo-o, dando beliscõezinhos na anca, para que não sentisse quando fosse aplicada a injeção. Ela tremia de medo dele, pois avançava até de focinheira.
Claro, ela esqueceu de mim não da dona do Thor, o astro principal.

É o que nos acontece quando temos filhos, deixamos de ser a Izabel para ser a mãe do André, do Marcelo e do Rodrigo. Isso é muito interessante e gratificante. Somos lembrados e reconhecidos pelos nossos 'frutos'.
Agora devo ser a dona do Luther e da Menina!

85 anos, que alegria vê-la nesta idade andando por aí, inteira, fazendo compras e cheia de alegria.
Dividindo tarefas com o maridão, aposentaram-se, ele optou, como bom filho de italiano, cuidar da cozinha. Ela, do restante e das compras.
E ainda com doses de amor e carinho fortes.



Conto como a conheci,
ela tem uma história de vida sui generis,
marcada pela dor
e pela superação:

Na época eu fazia trabalho de coordenação da evangelização de crianças e jovens e trabalhava como médium numa casa espírita aqui bem perto de minha casa.
O mentor da Casa, o amado Espírito Eurípedes Barsanulfo. Foram onze anos de trabalho na caridade. caridade dos amigos espirituais, mais por mim do que eu por eles. Sou grata a Deus por conhecê-lo, tantas provas que tive da "sua amorosa" presença!

Essa senhora lá apareceu desesperada, enlouquecida pois seu filho único acabara de falecer num acidente de carro, ele dirigia de madrugada, vários feridos, só ele morreu.
Muitas pessoas, eu bem me lembro, foram muito amistosas, aconchegantes, a princípio,  foram aos poucos algumas muitas se cansando. Ela não mudava. Fala desconexa, sempre o mesmo tema, sua perda. Seu marido um homem tranquilo, amigo, bondoso e amoroso com ela.
Acontece nas casas de ajuda que com o tempo, vão as pessoas se cansando,
é como se também achassem que se a pessoa ouviu os ensinamentos doutrinários,
'se saber e entender fosse o mesmo'. Ela não mudava. E os milagres não se dão assim.
Nem sempre se consegue que quem perdeu alguém amado, um filho, vai aceitar, compreender, só porque uma doutrina explique com racionalidade os porquês da vida e da morte.
Cada um sabe da sua dor.

Como os dirigentes da Casa tinham amizade antiga com Chico Xavier, sempre iam caravanas.
Nunca fui. Muitas vezes refleti sobre minhas razões. Depois vi que era porque creio que, como dizia Luis Milleco: "Senhor, se tu não vais comigo daqui, jamais te encontrarei em outro céu."
Se eu acredito tanto na espiritualidade para que viajar tanto, em peregrinação, e ainda mais, sem motivos, pois creio que o trabalho no Bem me levaria ao Senhor.
Ela começou a ir com o marido. Muitos lá no Centro tinham também perdido pessoas amadas e nunca veio comunicação do Além, nada.
Na segunda vez que essa senhora foi, recebeu a surpresa:
Foi chamada pelo doce Chico, recebera uma mensagem psicografada de seu filho. Ela nunca foi espírita e seu filho também não.
Uma mensagem linda, comovente, onde contava detalhes do acidente, que ninguém bebera( preocupação de muitos), dizendo que foi acolhido logo ao desencarnar no regaço amado de sua avó e pelo tio (citou nomes, pormenores fidedignos) e mandou recados consoladores para sua tia e madrinha e para sua prima que deste lado, adoeciam em desespero.

A Vida Continua!

E o Correio funciona, realmente, do lado de lá para cá.
Foi júbilo para todos nós.
Ela e seu marido já estavam em processo de adoção outro menininho,
por amor, pois "surgiu' assim do nada, filho de uma mãe viciada e infeliz, que falecera e ninguém o queria.
E a bondade desse casal superava e supera tudo.

Lembro-me bem da comoção e de um 'certo alvoroço', tipo,
- "como "ela" recebeu uma mensagem
e eu, que vivo anos na doutrina não?"
(infelizmente, isso acontece nos 'melhores' grupos)
Pois que dor é dor. E na dor, vezes, quem fala mais alto é uma angústia infinda, espécie de egoísmo justificável, seria?
Que a doutrina deveria curar, cada um sabe da sua história. Não nos cabe julgar...
Só mais acreditei que no Plano espiritual, há sempre uma ordem que ultrapassa os limites das nossas razões.

Dai foi um pulo na vida dela, começou a fazer Curso superior de Veterinária, mesmo após ter abandonado seus estudos bem nova. Formou-se... trabalhou e atendia, se pagassem ou não seus honorários;
vezes reclamava dos 'calotes', ria depois, desculpando-os,
alegando que eram pobres e afinal, os animais mereciam.
Amava sua família, seus pacientes, sempre com sorrisos apesar das dores sofridas.
E agora a reencontro, linda com suas rugas, marcas de cada curva do caminho que não deu certo,
mas viçosas e iluminadas, com um frescor de uma idade vivenciada com amor, doçura, amando seu marido, seu filho hoje rapazinho.

Foi um encontro feliz para mim!
Como é bom ver gente que está saindo-se vencedora numa encarnação.
Como posso afirmar?
 85 anos!!!
E aquela capacidade de receber e dar um abraço tão festivo,
braços abertos à vida, corpo e ossos flexíveis, nada enrijecida,
mãos que ainda sabem cuidar de seu jardim...
Convidou-me umas tantas vezes para ir tomar um cafezinho com seu marido na sua casa nova,
as referências?
 - Olha, tem na frente dois arbustos lindos, um de flores brancas e outro de flores rosas.
É a casa mais florida, você vai reconhecer!

Como dizia Hermann Hesse:
"A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa."

Com certeza, a minha amiga de 85 anos não 'desejou' passar um décimo das perdas que teve!

E eu, a dona do Thor( que já está no céu dos cachorrões grandões)...
ontem, ganhei meu dia:
fui mais feliz com a visão da paz de alguém!!!
Felicidade contagia.
O Amor une corações!

Maria Izabel Viégas


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Somos feitos do pó da terra




Carlos Drummond de Andrade me encanta,
não só por poesias leves, de amor, felicidade plena,
diríamos - "politícamente corretas"-
 por parâmetros
que agora os novos metafísicos
andam a classificar
tudo que lhes soa como "lindinho".
Atualmente quando colocamos no ar uma poesia que fala de descrença,
que contradiz esse novo manual de instruções
que assevera que estamos numa época de transformações,
que o mundo caminha para o Nirvana,
que o homem está em fase de regeneração
em contraponto com as imagens que temos de todos os povos do mundo
- o que diríamos da Síria, tudo bom por lá?
E da África, menos fome?
E aí  ao seu lado, os vizinhos todos num uníssono dão Bom Dia, sequer se olham nos olhos?
E cada um em sua terra. no local onde vivem são amistosos e solícitos?
Ou é mais fácil ser bom virtualmente?

E nas redes sociais, como reagem as pessoas a quem lhes diz o contrário do que acreditam?
Aceitam o diferente?
Ou enviam mensagens para que haja em você uma mudança, que desdiga o que disse, hein?
Ou seja, tenho que falar palavrinhas sempre lindinhas para que eu tenha amigos?
Urge limparmos muitos sótãos,
e nem todos conseguem chegar perto dos seus portais.

E Drummond, onde entra aqui?
Além de ter sido considerado louco com aquela " pedra no meio do caminho",
pois não tinha rima...
Bem, ele fez versos em que falava o que pensava,
falava da realidade que "existia",
não só daquela que queremos inventar!

Eis um poema que adoro:

"Confidências do Itabirano"

"Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isto sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!"

CDA, in "Antologia Poética"

E, então,
diremos que o imortal Drummond com toda aquela alegria,
era um homem triste e orgulhoso, com a alma forjada a ferro?

E agora,
afirmaremos que aquele imenso potencial de amor
era uma vontade que o levava a não trabalhar?

E pois,
que masoquista seria,
se julgado fosse nas inquisições mais nobres
( se é que existem)
pois se divertia com esse hábito de sofrer?

Drummond era poesia pura, corpo e alma.
Deve ser dourada a sua alma,
habita os céus,
com certeza!

Amigos, pensemos mais
sobre nossas conceituações
que são modismos,
que vêm com bulas;
pensemos mais
no ser humano
que está à nossa frente,
que não pensa igual,
e que apesar de descrer
destas 'coisinhas' espirituais...
tem, como eu,
uma incomensurável
Fé na Vida,
Fé em Deus
e nos Seus Divinos Desígnios!
Sem Amor não sei viver
Sem Religiosidade a vida não tem sentido!
Sou assim!

Maria Izabel Viégas

* imagem: crédito ao ilustrador Dirceu Veiga.


sábado, 12 de janeiro de 2013

Ando assustada com gente - borboleta




Nem sempre silêncio significa paz.
E para onde foram as borboletas azuis?
Tenho receio
de pessoas
silenciosas,
melhor dizendo,
silenciosamente
falantes.
Ando assustada
perplexa
com anjos
disfarçados
borboletas
alma de mariposas
rodopiantes,
alardeando
felicidade
estranha
não adoça
nem salga
insossa.
Confesso
vida inteira
conheci
poucas
raras
portadoras
do dom
do amor
que nem
precisa
de toques
de palavras
de silêncios.
Ando
medindo
medo
catarsico
dessa
espiritual
mania
de ser
aquilo
que  mais
parece
sombra de gente.
Ando assustada
será que as pessoas
andam vagando
em bandos
esquecidas
de que perderam suas almas?
Preciso
dormir
procurar
nos meus sótãos
nas gavetas de mim
se eu não ando
assim inquieta
porque também
perdi
deixei
por aí
a minha alma.
Volto
conto
tudo
visto
sentido
nessa
minha
insana
viagem.
Ou seria
o tal caminho
da minha cura?

Não se preocupem, eu sempre volto!

Verdade
verdadeira
eu nunca saio.
Vou, ficando aqui.
Estou aqui, lá estando.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Viajo no meu rio, o rio sou eu.







"Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre
Esse rio sem fim."

Fernando Pessoa, 
in "Cancioneiro"




Tenho histórias deste rio 
que mora dentro de mim, 
tenho na alma um riacho,
vezes sou rio, 
vezes barqueiro estou
no comando
do destino,
vezes , nada sou
sendo o todo.
Memórias da alma,
acordada, desperta 
nos dois lados desta vida
no aqui e no lá.
Em ambos 
sou um ser -água, 
sentimentos 
que me dominam:
ora águas mansas, 
tranquilas;
ora redemoinhos, 
águas revoltas.
Já fui ao fundo das águas
num reino que habitam 
seres míticos 
indefiníveis 
belos ou nem tanto assim. 
Sei que os conheço,
protegem-me na aventura
pois, encantada
confiante
senti suas mãos 
a me trazer
de volta ao "mundo dito real".
Já mergulhei 
nas águas negras dos pântanos
coração, quase morto na tristeza;
mesmo lá mãos de luz 
ressuscitaram meu ser.

Que força estranha é esta 
que nos eleva 
aos mais altos 
picos do mundo
e que nos fazem ir 
profundo na dor;
misto de
doçura e amargura
tristeza e regozijo
agonia e paz,
luz e sombra,
sempre eu.

Sinto que é
mais uma camada 
do corpo físico
para além  
de todos os nossos corpos
incognoscível,
puro mistério
impronunciável nome.
Só pode ser
a chama de Deus!

- Maria Izabel Viégas -




terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Caminho por uma rua em que as flores são vocês!




Canção Amiga

"Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça, 
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa por muitos países.
Se não me veem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças."

* Carlos Drummond de Andrade
in Antologia Poética - na Praça dos Convites

Um dos  prazeres meus 
é ver, maravilhada,
 o raiar 
de um Novo Ano 
assistindo as comemorações 
em todas as "meias- noites"
 das cidades do nosso mundo.

Gosto de ver pessoas 
que sorriem, alegres,
pelos quatro cantos do planeta.
Gosto de ouvir suas histórias.

Sinto-me assim 
como na poesia
caminhando por uma rua 
que passa por muitos países.
Visito amigos aqui do Brasil,
vou às suas cidades.
Salto a outros continentes!
Vejo os seus sorrisos.

Pena que existem 
tantas pessoas doentes,
tão tristes, solitárias,
ou aquelas que sofrem opressões,
que não aparecem aqui,
visíveis aos nossos olhos.
Nelas eu, na minha viagem imaginária,
páro e seguro suas mãos.
Quisera que ninguém sofresse,
sei que isso é impossível,
oro contrita ao Senhor
que nada ultrapasse
nem mais que
um pouquinho
daquilo que, por vezes, 
temos que penar.

No meu caminhar
 ao lado dos amigos,
conhecidos e desconhecidos, 
que abraço,
sinto uma aura de luz
-uma abençoada
energia do anjo -
que acompanha-nos
por todas as horas 
da nossa vida!

Que o ano 
que já raiou 
seja um caminhar 
de mãos dadas
que vença o bom senso,
que haja justiça entre os homens,
que o Amor 
ultrapasse as fronteiras 
dos mapas geográficos 
das terras
e dos corações!!!

- Maria Izabel Viégas -