Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

sábado, 26 de abril de 2014

Acho que tenho meu aferidor de encantamentos




"O AFERIDOR"

"Tenho um Aferidor de Encantamentos. 
 A uma açucena encostada no rosto de uma criança
O meu Aferidor deu nota dez.
 Ao nomezinho de Deus no bico de uma sábia
O Aferidor deu nota dez.
A uma fuga de Bach que vi nos olhos de uma criatura
O Aferidor deu nota vinte.
 Mas a um homem sozinho no fim de uma estrada
sentado nas pedras de suas próprias ruínas.
O meu Aferidor deu DESENCANTO.
(O mundo é sortido, Senhor, como dizia meu pai.)

autor: Manuel de Barros.
in Poesia Completa

Quem entre nós terá esse aferidor?
É a medida que inventamos,
ou nascemos com ele,
quem sabe,
de como olhamos o mundo?
É uma medida que só os poetas o têm?
Pois que os poetas
são os mágicos
medidores
desta e de todas as vidas
viventes ou morrentes
aqui nas terras
e nos céus também.
Enxergam
nas ondas do mar
ruas de pedras coloridas
sinuosas de tanto encanto
e com gente correndo feliz.
Onde só há deserto
eles enxergam e colhem flores amarelas.
Onde há lágrimas de dor
delas saem voando borboletas azuis.
Assim são os poetas.

Um dia eu achei
uma coisa esquisita
andando dentro de mim
debaixo da minha pele,
parecia uma correição
de formiguinhas
verdinhas
brilhantes
fazendo o maior barulhão.

Primeiro, pensei que morria.
Segundo, vi que viraram cisnes
nadando nas minhas veias.
Terceiro, acordei
sonhando com uma poesia.
Mas os cisnes
voaram
como gaivotas;
nunca mais as vi.
E da poesia esqueci.
Acho que era o meu Aferidor.
Maroto
Enganador
Travesso
Encantador
medidor de Encantamentos
anda por aqui escondido.
Um dia eu acho.
E conto para vocês todos.
As notas que ele dá
às belezuras
e tristezuras
do mundo.
Um dia...
quando nevar lá no sol.

Maria Izabel Viégas

***
Procure saber o que é "uma fuga de Bach".
É lindo.
Vai gostar de saber...
O autor usa esta expressão em várias poesias.
Penso que o Aferidor realmente deu nota vinte.
Penso que até nota mil.


Uma pista...
 in Wikipédia:

 

 Fuga a seis vozes da obra Oferenda Musical, manuscrito de Johann Sebastian Bach 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Por que cultuarmos livros?



Aqui o meu respeito e carinho pela iniciativa 
da Luma do Blogue: "Luz de Luma, Yes Party"


Quero deixar meu apreço 
pelo Evento  8º BookCrossing Blogueiro, 
onde se busca e se consegue com êxito 
seguir o lema: 
"Levando mais pessoas a viajar com livros"
Parabéns, Luma e amigos blogueiros!


E sobre o porquê de se cultuar livros, 
trago a voz do mestre da arte de escrever livros 
e povoar o mundo com sua cultura refinada,  
Jorge Luiz Borges:

O Livro

  
"Dos diversos instrumentos do homem, 
o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. 
Os outros são extensões do seu corpo. 
O microscópio e o telescópio são extensões da vista; 
o telefone é o prolongamento da voz; 
seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. 
Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
 

Em «César e Cleópatra» de Shaw, 
quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. 
O livro é isso e também algo mais: a imaginação. 
Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? 
Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? 
Tal é a função que o livro realiza.(...) 
Se lemos um livro antigo, 
é como se lêssemos todo o tempo 
que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. 

Por isso convém manter o culto do livro. 
O livro pode estar cheio de coisas erradas, 
podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, 
mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, 
algo de divino, 
não para ser objeto de respeito supersticioso, 
mas para que o abordemos 
com o desejo de encontrar felicidade, 
de encontrar sabedoria."

Jorge Luís Borges,

 in 'Ensaio: O Livro' *

Oito ou Oitenta!
 Assusta-me os extremos.
Todos os extremos são radicais. 
E radicalismos nos trazem ou provocam, se somos os praticantes,  
aflições , tormentos desnecessários.
O pouco "radical" gera carência, é minimalizante.
Pode ser fruto de desleixo ou um pensar "pequeno".
No caso de ter bens, nem tanto, se o homem assumir o tipo de vida mais simples possível.
E se for feliz com o pouco que tem.
Pouco é tudo se agregado à felicidade do ser.

Já, num contraponto, se falarmos em leituras , em livros penso que o pouco cerceia a cultura e o conhecimento do homem.
Como ler pouco?
Como tomar um remédio e não ler o rótulo, nem a bula, as prescrições e a posologia.
Pode se transformar em veneno para o corpo.
Morre-se por pouco ler.
Por confiar na leitura que o "outro" fez.
Se pouco leio contento-me em ser um eco das opiniões dos outros, que talvez também por não lerem o suficiente, serão outros ecos.
E assim forma-se uma 'sociedade da linguagem e do saber morto'.

E o radical  dos extremos "oitenta", pode se transformar numa exacerbação do eu sozinho, do egoísmo, do ter mais do que ser. 
Mas, em se tratando de bens materiais, se o homem pode comprar e ter e ter a felicidade em si e no seu entorno, sem ser doença consumista, que seja feliz então!
Só me assusto com o número cada vez mais crescente, que a mídia tem mostrado com frequência, com os "acumuladores de lixo". Que já se tornou doença, patologia psiquiátrica.
Um excesso com cerne de pouco ter.
Uma carência existencial tão forte que anuncia um mal dessa nossa sociedade moderna.
Casas abarrotadas de coisas velhas, inúteis para quem está de fora, mas valiosas como ouro para o ser doente.
Fico pensando como e quando começa essa doença, será que quando se quer  ter, consumir bens valiosos e a pobreza não permite?
Será egoísmo de não saber dividir o pão nosso de cada dia?
Não sei... Só sei que é um sofrimento radicalmente triste, solitário, um cheio vazio do ser mais humano.

E, o radicalismo do muito no caso de livros? 
Posso focar duas vertentes.
Uma, o sonho de consumo de qualquer pessoa que ama livros, dos escritores, dos homens mais antigos: uma biblioteca só sua, onde ele senta confortavelmente numa poltrona, 
enlevado pesquisa e devora na leitura do livro que lhe apetecer.
São raros esses homens. O mundo está tão diferente.
Alguns, tem bibliotecas com capas coloridas... os fingidores.

Ser acumulador de livros na estante empoeirados será uma doença também?
Pode ser. Com certeza. Difícil definir.
Que causa doenças, ah , isso causa.
Meu filho quando iniciou a Faculdade viu a Biblioteca maravilhosa ser fechada pois foi encontrado uma bactéria mortal.
Formou-se e ainda estava fechada.
Usava outras bibliotecas.
Um conhecido meu colocou no seu quarto prateleiras bonitas em toda uma parede. Sua esposa quase morreu de alergia.
Resultado, livros encaixotados. Por que não doados?
Estão num quarto, encaixotados.
Morrem ali a cada dia uma ideia, um pensamento, um autor, muitos poetas.
Um cemitério de livros.
Porque ele e ela são egoístas, teimosos, doentes e acumuladores, julgo eu, rogando para que esteja errada e que já tenham se desfeito deles, doando-os. Nunca mais os vi... 

Outra vertente: a do radical extremado que muitos livros lê.
Este...  Creio que este 
será abençoado por libertar-se 
das prisões do pensamento obtuso, 
restrito dos limites impostos por uma só "verdade".
Será ele aquele que ouve a voz de todas as pessoas do planeta, 
que entenderá melhor os outros seres , 
outras etnias, outros valores, 
talvez se torne mais inserido na sua sociedade, 
mais compreensivo, 
menos crítico feroz, 
mais crítico de conteúdos e não de pessoas, 
mais aberto a novas ideias.
Talvez o livro o faça mais ser humano.

 Disseram um dia: 
"Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. 
O livro é isso e também algo mais: a imaginação."

E a imaginação é a liberdade voando sem fronteiras.

Maria Izabel Viégas

* Fonte: site O Citador


 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Que pena, não sou poeta!



Faz um bem imenso 
ler poesia 
ao amanhecer, 
no entardecer 
e ao anoitecer.
em todos os 
"cer"
vou aprendendo 
a mais 
ser.

Lendo Paulo Leminski:

"eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro 
ou está por fora

Quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro de meu centro
este poema me olha."



Gosto de gente que olha por dentro.
Eu olho por dentro
pessoas que olham por fora.
Gosto de gente que olha nos olhos.
Gosto de gente que olha

Gosto de gente.
Gosto mais de bicho
Bicho
não olha
Bicho te sente.

Um dia renasço
poeta.
Que pena eu tenho de mim
Não sou poeta.
Que pena...
Que dó...

Maria Izabel Viégas


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Encantei-me, encontrei-me. no azul do mar e do amar

Relembrando
pois existem pessoas que nunca esqueceremos.
Esta poesia fiz participando da Blogagem Coletiva sobre pintores
da amiga amada que mora em meu coração,
a poetisa e escritora Glorinha Leão
do Blog Café com Bolo



Hoje sou sentimento
Hoje visto-me em azules
Bailando no profundo amar das
Águas azuis, 
lindas orixás: 
Oxum, 
Yemanjá
Forças vivas
cantam e dançam 
seguindo a melodia das águas 
dos rios, cachoeiras e mares.
Ondas revoltas,
ondas suaves. 

Ondas mistério, 
águas abismais
giram e giram
numa dança magistral.

Serenas ou tsunamis.
Inconstantes,
femininas,
seguem o fluxo.
Bailar é o destino
sempre à procura de olhos
que as admirem.

De corpos que se desnudem
e mergulhem 
nas profundezas
da alma das águas
.

São mulheres, 
são meninas as ondas.
São bailarinas... 
este é o segredo do seu bailar!
E eu quero ser a bailarina
que se enrosca

sensualmente nas águas do corpo, 
que fala a linguagem
contida nas águas do amor.
Quero bailar contigo, 
ó mulher bailarina.
Quero penetrar nos teus segredos
Quero ir lá no fundo
Quero ficar pés descalços
quero sentir teu frescor
tua juventude
tua sensual paixão.
Enfim, 
rodopiando extasiada 
quero bailar nos teus passos,
acompanhar no compasso
da vida que pulsa
que arrasta
que inebria
e vive
e vive
e vive.

Quero ser como tu, azul bailarina...
Encontrar-me.
Encantar-te.
Enfeitiçando-me,

enfeitiçar meu amado amor.

Maria Izabel Viégas


Imagem: Tela de "Edgar Degas - Les Danseuses Bleues" 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Não te quero folha, em mim.





"Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi:
não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo."

 - Pablo Neruda


E isso é o melhor para nossa vida,
esta vida que nos coube 
por dever 
ou direito?
Faz-se mister ocupá-la, 
ventre adentro, 
veias compartilhadas 
nos preenche 
vazios do ser? 
Estar-se enraizado a qualquer outro ser,
faz melhor nosso corpo?
E a alma o que nos aconselhará?
Ela que é onisciente.
Pediremos o seu parecer divino, nos momentos certos.
Nascemos com um peso.
Crescemos para dentro 
ou para fora
dos limites do equilíbrio.
Ego nos mostra quem somos.
Ego extrapola nos excessos.
Alma nunca sai do tom.
Ego pode entender a alma.
Fomos destinados a ser gente.
A ser humanos.
Dizem que há humanos que não o são.
Devem ter alterado a fio navalha o direito de humano viver.
O destino me parece podemos modificar.
Permitido 
nos é 
reconstruir, 
recomeçar.
Pesar e repesar. 
Pensar e repensar.
Desconstruir parâmetros.
Criar novos paradigmas.
Reforçá-los ou abandoná-los.
Sentir,
ora,  é preciso!
Abrir  comportas das usinas das águas -sentimento.
Cerrá-las quando urgente 
se faz a dosagem dos exageros.
Somos minimistas ou malimistas.
(existe isto?)
Minimista toma a forma o homem que pouco crê em si mesmo.
Malimista torna-se o homem ao se ver maior do que se é.
O minimista se ama pouco. 
Vê o outro e tudo tão pequeno, pensam menores do que são. 
O malimislista só olha o mal que há 
ou se não há, o inventa.
Será? 
Meios termos são bem vindos, bem há que o diga.
Não quero folhas tremendo no peito meu.
Quero folhas crescendo em mim
brotando a cada primavera.
Minhas folhas trêmulas. não.
Balanceando ao vento
sucumbindo nas tempestades. sim.
Cíclico 
os ires e vires.
renascendo na árvore minha
meu ego tronco
a ser florescer em eu.
Árvores, muitas, ao meu lado,
dançando,
entrelaçadas
nesse universo 
cúmplice e irmão. 

maria izabel nuñez viégas

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Estesia





"Que é isto que aperta meu peito?
 Minha alma quer sair para o infinito ou
 a alma do mundo quer entrar no meu coração?"
- Tagore -

Pára todo o movimento
Em mim precipícios
espiralando meu corpo
Afastada a mente consciente
presa em outras instâncias
Onde o espírito?
o nada
imerso na completude
do universo inteiro
um ponto brilhante
no infinito
minha alma
hesita
vai ou fica
é ou não
muda-se
mergulha
aventura-se
ou se cala?
Onde mora o rei desta morada?
Quem ocupa agora este meu corpo?
Claridade e escuridão
mesclam-se
impossível encontro.
Tempestades e calmaria unem-se
Não estou aqui estando
Não sou aqui sendo
quem  partiu de mim?
quem chegou ao centro de meu centro?
Angelus
Daimons
Pecadores
Santos
Bem aventurados
Aflitos
gargalhadas
gritos
murmúrios
sorrisos
Quem chegou
e penetrou
na minha alma?
A alma do mundo,
todo o sentimento
de todos
os seres deste mundo?
Quem saiu?
A dor
de não saber o que se era
como gente.
Quem chegou e arrebatou
meu corpo,
alma, coração e mente?
amor
amor
amor
maior que o mundo
mais razão que a  mente suporta
mais coração que o mais que amor
sentiu, sentirá ou sente.
Plenitude.
Infinitude.
Estesia.
Deus.

Maria Izabel Viégas