Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

sexta-feira, 7 de março de 2014

Preciso me explorar no momento maternidade, mergulhar bem fundo



Hoje senti lágrimas furtivas
que, de tão discretas,
nem eu mesma as percebia.
Estranho corpo
Estranho inconsciente
que estranhamente
faz eclodir uma dor
que jazia esquecida
lá no fundo de um baú
que construí com madeira tão nobre
esculpida com flores belas,
revestido de seda,
cheiro de lavanda;
 dia a dia,
por toda a minha vida
fui nele colocando
lenços coloridos,
cores ,
muitas pinceladas
a cada alegria,
lá guardado ficava
o retrato das causas ganhas.
Nele também existe
um fundo falso
onde, escondidas, ficaram as desilusões.
Por que mostrá-las?
Quem, mesmo entre amigos,
querem saber de nossas recordações - mazelas?
Queremos todos festas e alegrias.
Lições de superação se esperam do homem de alma ferida!
Do aleijado, que se faça um vencedor de si mesmo,
não importa a dor que ele sinta!
Isso é a lição pollyana mais cruel da vida:
Tornar pessoas rotas,
ainda em cacos mal colados,
a sorrir um sorriso falso.
Cantar e escrever poemas de amor
quando o coração
não aceita ainda a dor do não ser perfeito!
Só que quando as mazelas se acumulam,
num processo alquímico misterioso,
não há como conter a água
que ficou estagnada na nascente
dos problemas mal resolvidos.
E foi assim,
que apesar do sorriso
e da felicidade
que me rodeiam,
com os quais construí o meu castelo
que me dão sustento a esse corpo
que abençoo por tê-lo,
eis que rolaram fartas as águas
do não saber onde começou
a dor do inexplicável começo de cada mazela.

Recordei das sábias palavras de T. S. Elliot:

"Não devemos por um momento parar de explorar
Pois o objetivo de toda essa exploração
Será o de chegar aonde começamos
E conhecer esse lugar pela primeira vez."

Mais uma vez preciso voltar ao ponto de partida.
Não de todas as dores, não!
Seria demais para minha alma.
Preciso revolver com suave cuidado,
mas sem medo, resoluta,
o ponto onde partiu, onde começou a tal lágrima.
Penso que esta já sei o começo da minha exploração:
vou explorar o nascimento dos meus filhos.
Ir pouco a pouco desvelando os mistérios.
Preciso entender quem era eu antes,
o propósito da vinda do primeiro fruto.
Que me fez tão feliz.
Que me deu sentido à vida!
Mas, quem era eu naquele instante?
E por que precisei tanto de apoiar-me num ser tão pequenino,
quem era ele?
quem era eu?
que vida eu tinha?
que sonhos eu tinha naquele dias?
que outros planos tracei para minha vida?
que expectativas coloquei
sobre seus pequenos ombros?
qual o peso que ele colocou
sobre meus tão igualmente frágeis ombros?
Quem me apoiou: eu ou ele?
Que foi a maternidade, na essência,
no começo, quem era eu e o que ele me trouxe?
E por que estamos aqui nesta vida juntos?
Preciso, hoje, explorar-me no mais profundo do meu ser.
Preciso de libertar de pesos inúteis!
Preciso urgente ir à fonte sorver a água pura.
Necessito rever a menina que eu era,
olhar bem nos meus olhos,
explorar minhas escolhas.
Como se fosse a primeira vez.
Para libertar-me de pesos.
E libertar igualmente os olhos do menino. 
Pois amor hoje não me falta.
Mas algo tão feliz não causa lágrimas incontidas.
E eu amo, como eu amo!

- maria izabel nuñez viégas -



2 comentários:

Paula Mello disse...

Fazer as pazes com o passado é um dos exercícios de vida mais difíceis!! Danado esse tal que sempre vem nos rondar... Um dia de cada vez, chegaremos lá <3

bjs

Luma Rosa disse...

Acho que devemos nos preocupar quando nos sentimos anestesiadas, áridas e sem forças para gerar lágrima. As mães sentem uma certa saudade de quando a inocência pairava em suas vidas, porque essa inocência as fazia acreditar que o mundo se tornaria melhor, porque ela agora é mãe. É um sentimento bom e que faz falta, por isso a cada nascimento, nosso coração se enche novamente de boa nova!
Beijus,