Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Viajo no meu rio, o rio sou eu.







"Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre
Esse rio sem fim."

Fernando Pessoa, 
in "Cancioneiro"




Tenho histórias deste rio 
que mora dentro de mim, 
tenho na alma um riacho,
vezes sou rio, 
vezes barqueiro estou
no comando
do destino,
vezes , nada sou
sendo o todo.
Memórias da alma,
acordada, desperta 
nos dois lados desta vida
no aqui e no lá.
Em ambos 
sou um ser -água, 
sentimentos 
que me dominam:
ora águas mansas, 
tranquilas;
ora redemoinhos, 
águas revoltas.
Já fui ao fundo das águas
num reino que habitam 
seres míticos 
indefiníveis 
belos ou nem tanto assim. 
Sei que os conheço,
protegem-me na aventura
pois, encantada
confiante
senti suas mãos 
a me trazer
de volta ao "mundo dito real".
Já mergulhei 
nas águas negras dos pântanos
coração, quase morto na tristeza;
mesmo lá mãos de luz 
ressuscitaram meu ser.

Que força estranha é esta 
que nos eleva 
aos mais altos 
picos do mundo
e que nos fazem ir 
profundo na dor;
misto de
doçura e amargura
tristeza e regozijo
agonia e paz,
luz e sombra,
sempre eu.

Sinto que é
mais uma camada 
do corpo físico
para além  
de todos os nossos corpos
incognoscível,
puro mistério
impronunciável nome.
Só pode ser
a chama de Deus!

- Maria Izabel Viégas -




3 comentários:

Dete disse...

Puxa, que poesia mais linda! Você tem uma capacidade incrível de mergulhar no rio das palavras e sair delas com frases elaboradas que deixam a gente só pensando... O mundo dito real está muito aquém da beleza e profundeza que você descreve tão bem. Abraços.

Toninho disse...

Que força estranha é esta amiga?
Lindissimo na construção e inspiração no Pessoa.
Um rio é muito mais do que um rio aos olhos de sensiveis poetas.
Amei e viajei nestas aguas que levam historia e as fazem em cada curva,em cada pedra que se queda.
Um lindo domingo a voce com toda paz e alegria e muita poesia.
Meu terno abraço.

Denise disse...

O título por si só chama à reflexão, Iza...

Tudo está dentro, a busca fora atrasa o processo...somos o rio que temos que navegar...a travessia e a jornada são solitárias, embora nunca estejamos sós...

Um beijo, querida!