Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Minha amiga de 85 anos, re-encontro feliz.




Conheci este texto através do amigo astrólogo António Rosa do Blogue Cova do Urso, li-o no facebook. Sou-lhe grata...

"Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar... a fonte das alegrias da vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...). 
O dinheiro não era nada, o poder não era nada. Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz. A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente. Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer. 
A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito. 
Mas amar e desejar não é a mesma coisa. O amor é o desejo que atingiu a sabedoria. 
O amor não quer possuir. 
O amor quer somente amar."
* Hermann Hesse *

Ontem encontrei na rua uma amiga que não via há muito tempo, uns quinze anos. E moramos perto, imagine, bem, não tão pertinho assim.
Ela na verdade nem me reconheceu, eu sempre tive cabelos muito curtos,usava óculos e não era loura.
Dei-lhe um abraço daqueles bem gostoso, e ela me disse:
- Eu te conheço, mas não me lembro, desculpa.
Rindo, falei-lhe uma palavra mágica: Thor.
Abriu-se um sorrisão. Era eu, de novo!
Thor era meu cão pastor alemão manto negro, ela é veterinária, já agora aposentada pois está com problemas de audição, não consegue auscultar os animaizinhos, segundo ela.
Essa senhora atualmente está com 85 anos!!!
Levávamos nossos cães, Thor e sua companheira Shanna no seu sítio lindo aqui no bairro. E era um furdunço. Todos no sítio ( moravam em quatro casas suas irmãs e respectivas famílias.) Meu cão era novinho e o 'descobrimos' muito brabo com estranhos. O toque mais marcante é que ela tinha adotado um menino pequenino, e este contava os dias para ver, de longe, o meu cão. Ele adorava , gritava feliz quando via o Thor. Contava ela que perguntava quase todo dia: Mãe, o Thor vem hoje?
Era muito comédia, pois para vaciná-lo, tinha que o meu marido segurar, acariciando a cabeça dele, pelo lado de fora da porta do consultório. E a outra parte do corpo ficava eu, dentro, abraçada com ele, prendendo-o, dando beliscõezinhos na anca, para que não sentisse quando fosse aplicada a injeção. Ela tremia de medo dele, pois avançava até de focinheira.
Claro, ela esqueceu de mim não da dona do Thor, o astro principal.

É o que nos acontece quando temos filhos, deixamos de ser a Izabel para ser a mãe do André, do Marcelo e do Rodrigo. Isso é muito interessante e gratificante. Somos lembrados e reconhecidos pelos nossos 'frutos'.
Agora devo ser a dona do Luther e da Menina!

85 anos, que alegria vê-la nesta idade andando por aí, inteira, fazendo compras e cheia de alegria.
Dividindo tarefas com o maridão, aposentaram-se, ele optou, como bom filho de italiano, cuidar da cozinha. Ela, do restante e das compras.
E ainda com doses de amor e carinho fortes.



Conto como a conheci,
ela tem uma história de vida sui generis,
marcada pela dor
e pela superação:

Na época eu fazia trabalho de coordenação da evangelização de crianças e jovens e trabalhava como médium numa casa espírita aqui bem perto de minha casa.
O mentor da Casa, o amado Espírito Eurípedes Barsanulfo. Foram onze anos de trabalho na caridade. caridade dos amigos espirituais, mais por mim do que eu por eles. Sou grata a Deus por conhecê-lo, tantas provas que tive da "sua amorosa" presença!

Essa senhora lá apareceu desesperada, enlouquecida pois seu filho único acabara de falecer num acidente de carro, ele dirigia de madrugada, vários feridos, só ele morreu.
Muitas pessoas, eu bem me lembro, foram muito amistosas, aconchegantes, a princípio,  foram aos poucos algumas muitas se cansando. Ela não mudava. Fala desconexa, sempre o mesmo tema, sua perda. Seu marido um homem tranquilo, amigo, bondoso e amoroso com ela.
Acontece nas casas de ajuda que com o tempo, vão as pessoas se cansando,
é como se também achassem que se a pessoa ouviu os ensinamentos doutrinários,
'se saber e entender fosse o mesmo'. Ela não mudava. E os milagres não se dão assim.
Nem sempre se consegue que quem perdeu alguém amado, um filho, vai aceitar, compreender, só porque uma doutrina explique com racionalidade os porquês da vida e da morte.
Cada um sabe da sua dor.

Como os dirigentes da Casa tinham amizade antiga com Chico Xavier, sempre iam caravanas.
Nunca fui. Muitas vezes refleti sobre minhas razões. Depois vi que era porque creio que, como dizia Luis Milleco: "Senhor, se tu não vais comigo daqui, jamais te encontrarei em outro céu."
Se eu acredito tanto na espiritualidade para que viajar tanto, em peregrinação, e ainda mais, sem motivos, pois creio que o trabalho no Bem me levaria ao Senhor.
Ela começou a ir com o marido. Muitos lá no Centro tinham também perdido pessoas amadas e nunca veio comunicação do Além, nada.
Na segunda vez que essa senhora foi, recebeu a surpresa:
Foi chamada pelo doce Chico, recebera uma mensagem psicografada de seu filho. Ela nunca foi espírita e seu filho também não.
Uma mensagem linda, comovente, onde contava detalhes do acidente, que ninguém bebera( preocupação de muitos), dizendo que foi acolhido logo ao desencarnar no regaço amado de sua avó e pelo tio (citou nomes, pormenores fidedignos) e mandou recados consoladores para sua tia e madrinha e para sua prima que deste lado, adoeciam em desespero.

A Vida Continua!

E o Correio funciona, realmente, do lado de lá para cá.
Foi júbilo para todos nós.
Ela e seu marido já estavam em processo de adoção outro menininho,
por amor, pois "surgiu' assim do nada, filho de uma mãe viciada e infeliz, que falecera e ninguém o queria.
E a bondade desse casal superava e supera tudo.

Lembro-me bem da comoção e de um 'certo alvoroço', tipo,
- "como "ela" recebeu uma mensagem
e eu, que vivo anos na doutrina não?"
(infelizmente, isso acontece nos 'melhores' grupos)
Pois que dor é dor. E na dor, vezes, quem fala mais alto é uma angústia infinda, espécie de egoísmo justificável, seria?
Que a doutrina deveria curar, cada um sabe da sua história. Não nos cabe julgar...
Só mais acreditei que no Plano espiritual, há sempre uma ordem que ultrapassa os limites das nossas razões.

Dai foi um pulo na vida dela, começou a fazer Curso superior de Veterinária, mesmo após ter abandonado seus estudos bem nova. Formou-se... trabalhou e atendia, se pagassem ou não seus honorários;
vezes reclamava dos 'calotes', ria depois, desculpando-os,
alegando que eram pobres e afinal, os animais mereciam.
Amava sua família, seus pacientes, sempre com sorrisos apesar das dores sofridas.
E agora a reencontro, linda com suas rugas, marcas de cada curva do caminho que não deu certo,
mas viçosas e iluminadas, com um frescor de uma idade vivenciada com amor, doçura, amando seu marido, seu filho hoje rapazinho.

Foi um encontro feliz para mim!
Como é bom ver gente que está saindo-se vencedora numa encarnação.
Como posso afirmar?
 85 anos!!!
E aquela capacidade de receber e dar um abraço tão festivo,
braços abertos à vida, corpo e ossos flexíveis, nada enrijecida,
mãos que ainda sabem cuidar de seu jardim...
Convidou-me umas tantas vezes para ir tomar um cafezinho com seu marido na sua casa nova,
as referências?
 - Olha, tem na frente dois arbustos lindos, um de flores brancas e outro de flores rosas.
É a casa mais florida, você vai reconhecer!

Como dizia Hermann Hesse:
"A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa."

Com certeza, a minha amiga de 85 anos não 'desejou' passar um décimo das perdas que teve!

E eu, a dona do Thor( que já está no céu dos cachorrões grandões)...
ontem, ganhei meu dia:
fui mais feliz com a visão da paz de alguém!!!
Felicidade contagia.
O Amor une corações!

Maria Izabel Viégas


7 comentários:

Unknown disse...

"A felicidade é amor..."

De mãe para mãe, ou de amiga para amiga...

Que história de vida bonita!! (apesar das curvas menos boas)

Beijinho muito grande

ELIANA-Coisas Boas da Vida disse...

Posso dizer que valeu meu dia com essa bela história emoção e amor!
Viver é isso poder contar belos causos da nossa vida e dos que nos fez bem!
Grata!
Beijo

Penélope disse...

Maria Izabel, o texto de Herman Hesse diz tudo sobre esta fantástica postagem que nos faz encher de VIDA e olhar para a frente com outros olhos.
Um grande abraço.
Valeu o dia passar por aqui!!!

Ana Sobral disse...

Que ser abençoado é a sua amiga. Deus utiliza muitos "meios", muitos "carteiros" para nos entregarem a mensagem que desesperamos, por não ouvi-la directamente Dele. Quantas vezes, sentindo-me perdida na busca de respostas, me aparece um Ser bonito, "desfardado" mas portador da mensagem que preciso de ouvir para continuar, mais forte. Grata pela partilha de história tão bonita.

Denise disse...

Que história bonita e envolvente, Iza...tanta gente cruza o caminho da gente e deixa marcas eternas, nos socorrem, compartilham, se doam, se vão...tb nós deixamos marcas....escrevendo todos suas histórias, e nenhuma deixa de ter "marcas de cada curva do caminho que não deu certo"....

Beijos pra vc, bom fds!

MARCELO DALLA disse...

Amiga querida!
Cá estou eu às lágrimas com esse seu relato... sensação de estar conversando com vc e recebendo os presentes da sua sabedoria, do seu carinho, da sua compreensão da vida.
Lindo mesmo, fiquei tocado. Isso é viver!!!
E tem gente q não acredita em nada... bah!
Quem tiver ouvidos que ouça...
que tiver olhos, que leia...
Hermann Hesse fechou com chave de ouro.
Vou dormir inspirado por ti!!!
bjos querida!

Cora disse...

E se tem pessoas que ainda estão envoltas pelo véu da escuridão que o tempo se encarregue de lhes abrir os olhos!!
Todos deveríamos ter a chance de poder ouvir tais relatos!!

Obrigada por compartilhar!