da Glorinha L. de Lion -
Colorindo a Vida de ... Verde

"Esqueceram a maçã"
"Eram cinco crianças que subiam para o albergue, com uma bela maçã na mão para terminar o lanche.
E você sabe como as crianças gostam de merenda e de maçãs.

Mas eis que, na beira do caminho, um lindo musgo,
brilhando como verniz prateado,
atapetava a pedra úmida.
As crianças ajoelharam-se como diante do presépio de Natal e, delicadamente,
cada uma arranca um pedaço daquele tesouro,
que carregam com as mãos fragéis.
- Vamos guardá-la no lenço...
- Vou colocá-la na janela, perto da minha boneca, com borboletas em cima...
- Eu vou colocá-lo na minha mesa de cabeceira e depois vão nascer flores...
E elas esqueceram as maçãs.

Sobem pelo caminho pedregoso, extasiadas,
arrebatadas transportadas pela beleza,
acima das vãs preocupações do dia,
felizes como deuses,
porque levavam um tesouro:
o reflexo do musgo prateado,
como um pássaro azul que tivessem agarrado por um instante...



(Obras do escultor cearense Nêgo,
que ornamentou todo seu sítio com belíssimas esculturas de terra e pedra,
cobrindo-as com musgo.
O "Jardim do Nêgo", hoje ponto turístico, fica situado na
RJ - 130, Teresópolis - Friburgo,
em Nova Friburgo - região serrana do Rio de Janeiro.)
Você já notou o lugar importante que ocupam
as cores, os sons e os sonhos
na linguagem e nos escritos das crianças?

Tudo é luminoso, aéreo, livre e fresco como a água que corre.
E quanto a nós, adultos...
apressamo-nos a erguer uma barreira,
a apagar a luz, a ofuscar o esplendor das paisagens,
a baixar obstinadamente os olhos para as pedras e a lama,
que teimam em contemplar o espaço e o azul!

E é para a matéria, para o objeto a ser examinado ou manejado,
para o papel a ser preenchido, o lápis a ser empunhado,
a construção a ser montada,
é para o prosaíco - prático talvez, que orientamos a criança,
ocultando-lhes sempre o ideal e a beleza.
É provável que nos digam que não temos sonhadores,
mas sim homens práticos,
capazes desde cedo de cavar a terra ou fixar a cavilha;
mas sabemos também que temos necessidade ainda de
homens que saibam esquecer, à beira do caminho da vida,
a maçã que tinham na mão, para partirem como pesquisadores desinteressados
em busca de um ideal.
Tenha cuidado para não desperdiçar, na criança
os bens inestimáveis cujo esplendor nunca mais conhecerá!"
autor: Celestin Freinet *

Os caminhos da aprendizagem são diferentes para cada ser...
e certamente devemos ter o cuidado de nunca "podar"
a livre criatividade e os sonhos de uma criança,
forçando-a a pular etapas do seu desenvolvimento natural
onde o imaginário, a fantasia é normal e bela.
Fazendo-a se "ajustar" aos ditames do imposto pelo social ou pelos nossos próprios "desejos - lacunas - frustrações não realizados" vemos a inversão: crianças - adultas e adultos sem infância.
Deixemos nossas crianças brincar entre jardins e flores,
que cuidem de animais, brinquem com pedrinhas mágicas, areia da praia,
mãos e pés na água doce, água salgada...
livres, soltando sua imaginação.
Olhem o céu com eles...
mostrem a lua e suas fases,
um arco - íris, corram descalços,
brinquem na chuva,
dancem e cantem!

Aproveitem...
quem sabe o "stress" do seu cotidianos diminua!
Ainda é tempo...
até de resgatar a sua criança interior, adulto amigo.
É bom olhar e catar
os musguinhos mágicos das pedras dos caminhos!
* Esta história é do livro: Pedagogia do Bom Senso",
do pedagogo francês Celestin freinet,
nasceu no sul da França ( 1896-1966)
que muito padeceu nos seus tempos de escola quando criança.
Talvez, quem sabe, porque era muito bom!

Obrigada pelos comentários - depoimentos de meus amigos queridos.
Todos a resgatar e vivenciar a beleza singela de sua "criança interior":
Chica, Glorinha L de Lyon, Manuela Freitas, Eliana Pessoa,
Marli Borges, Cris França, Tati Pastorello, Astrid Annabelle,
Lu Souza Brito, Maria José, Manuel Marques, Luma Rosa
e
Marcelo Dalla...
com a sua experiência como artista criativo que é,
nos enriquece com seu testemunho:
"Esse post me caiu como uma luva.
Sabe que estava desenvolvendo o projeto de um livro infantil com uma editora (um projeto sob encomenda) e a editora foi cortando toda a imaginação que eu colocava, queria um trabalho prático. Eu sempre incomodado com isso.
Agora tenho tudo claro. O projeto ainda vai sair, mas quero ver se ainda mudo isso."
É... estes são os desafios dos profissionais competentes
que se "atrevem" a colorir as mentes infantis com beleza e lirismo!
Beijos em todos
e meu Carinho... sempre!
