Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

domingo, 8 de dezembro de 2013

Quem ouviu o choro do meu ipê - roxo?






 O vento o tirou de mim,
que culpa tem o vento?
A tempestade arrasou a cidade,
pode-se execrar a tempestade?
Aprendemos a amar a brisa.
porque nos refresca.
Aprendemos a ficar à sombra 
das árvores generosas e frondosas.
Inocentes, pois elas atraem os raios,
a fúria da natureza.
E quem condenará os raios e os trovões?
Aprendemos que os primeiros 
limpam as energias nocivas, 
miasmas psíquicos espalhados 
pelos pensamentos doentios 
do homem desavisado 
ou mal intencionado
aqui no ambiente próximo à superfície - terra.
Aprendemos a cultivar o solo sagrado
que nos dá o sustento, alimento e vida.
E quem condenará a avalanche 
que numa catástrofe aterrou 
toda  a cidade?
Aprendemos que nossa Terra é um planeta água,
cobre três quartos de sua superfície,
sentimos que a água é a nossa vida
somos água em todo nosso ser.
E quem condenará a mesma 
quando enfurecida se torna maremoto,
destrói vilarejos, 
arrastando as margens dos rios, 
matando gente.
matando bicho.
Mata porque é seu destino
seguir o curso que lhes apontaram os homens
que desviam rios e fazem hidrelétricas no meio
e que condenam à morte a terra 
dos índios, 
dos quilombolas, 
dos mais pobres, 
dos fracos e oprimidos.
Quem realmente é dono do poder aqui na terra dos homens?
Quem realmente comanda todos os destinos?
Quem manda nas forças da natureza?
Quem é o senhor do mundo?
Aprendemos, desde pequenos, 
que havia um deus supremo
que era o rei dos mundos
de todas as esferas.
E quem culparemos quando 
um índio é morto
um animal é extinto
quando se trocam florestas por pastos inúteis
que nem tem gado nele, 
só uma certidão de posse de um coronel.
Assistimos, perplexos, a omissão da justiça do homem
que permite os crimes em prol dos lucros.
Condenaremos o deus supremo?
Condenaremos tupi , 
o deus dos índios,
por omissão culposa ou danosa?
Tantos deuses...
e a lei é essa?
Só assistir a tudo e apenas rezar.
Mas rezar para quem?
Rezar para que deus?
O deus dos índios, o dos homens brancos, 
ou para mamon - o deus da cobiçada e vil moeda?

Mundo ainda lindo, nosso mundo, nosso lar,
que morre que sofre que chora que geme 
nas trevas da ignorância e do descaso.

E quem ainda ouve o choro dos que morrem antes do tempo?
Soterrados pela terra amada.
Afogados nas águas do triste destino.
Desabrigados pela fúria dos ventos
Sufocados pela falta do ar puro
que respiraria
e prolongaria a sua vida.

Quem ouve ainda o choro das árvores que morrem?

Quem escuta o lamento do silêncio dos pássaros inocentes?
Quem tem a sensibilidade de ouvir a voz da alma das coisas e gente sofredora deste mundo?

Eu hoje choro a morte de minha árvore 
nobre
bela 
altiva 
majestoso ipê - roxo.
Foi tão rápido
tão alto o seu grito 
no meio da tempestade...
Partiu-se um elo de amor
uma união de almas 
meu tronco - gente ouviu 
um lamento do seu tronco - árvore:
só um lamento:

"Adeus
ssssssssssssssssssimmmmmmmm
há Deus, sim,
acredita...
vou para o céu das árvores
no meio da mata Atlântica
há um local secreto e sagrado
que me aguarda, 
não chora!"

Mas eu, humana
deveras cansada de impunidade
das maldades, das falsas desculpas
dos homens inconsequentes e cegos,
inundada pela descrença 
no poder deste mundo
chorei tantas lágrimas tristes.
Transformei-me em 
raio, trovão, fúria,
vento, maremoto, avalanche.
Tempesteou 
todo meu ser
choveu dentro de minh'alma.

adeus
há deus
no secreto, no mistério, no mundo paralelo ao que vivemos.

 Maria Izabel Viégas

Um comentário:

Mara Lucia Bechara disse...

Maria Izabel,minha querida dizem que devemos ter filhos,plantar uma árvore e escrever um livro!!
Imagino seus sentimentos já tive árvores que cairam em minha vida,mas plantei outras e vou sempre plantar,se eu não as ver florir pelo menos meus netos verão!!
Plante outro ipê amarelo!!
bjjs