"Um dos preconceitos mais conhecidos e mais espalhados consiste em crer que cada homem possui como sua propriedade certas qualidades definidas, que há homens bons ou maus, inteligentes ou estúpidos, enérgicos ou apáticos, e assim por diante. Os homens não são feitos assim. Podemos dizer que determinado homem se mostra mais frequentemente bom do que mau, mais frequentemente inteligente do que estúpido, mais frequentemente enérgico do que apático, ou inversamente; mas seria falso afirmar de um homem que é bom ou inteligente, e de outro que é mau ou estúpido. No entanto, é assim que os julgamos. Pois isso é falso. Os homens parecem-se com os rios: todos são feitos dos mesmos elementos, mas ora são estreitos, ora rápidos, ora largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos."
-Leon Tolstoi, in "Ressurreição" - escritor russo, 1828 a 1910
Ele é um homem mau. Ela uma mulher caridosa. Julgando-os estou.
E eu, sou quem, sou o quê? Sou aquela que não sabe , na verdade... sou isto ou aquilo. Regozijo-me de ora ser mais isso, ora ser mais aquilo, por que não?
Sou alguém que ainda, após tantos tropeços e acertos, ainda sou momentos.
Em meu favor, posso afirmar que não vim fadada aos fracassos, nem a sofrer mais que o tempo necessário o luto das desilusões. Sou mais coragem do que medo. Sou mais amor que paixão desvairada. Mais verdade que mentiras. Entretanto, confesso: sei mentir e muito bem. Aprende-se a mentir quando se vai crescendo.
Somos intimidados pelos nãos e ao desviarmos das negativas aos desejos bem pequeninos, bem inocentes e pueris, sem explicações que nos preencham com verdades verdadeiras, vamos aprendendo a arte de dizer o que querem ouvir. Com certeza, quem me ensinou a dissimular sentimentos foram eles, os mais velhos. Eram maus? Não! Aprenderam, inofensivos assim como eu, pois todos fomos crianças um dia, com seus pais, e estes com seus pais e assim, deu-se a espiral dos medos das palavras verdadeiras.
Um dia aprendemos a força do abraço, do aconchego, do beijo carinhoso, dividimos o pão que iria nos matar a fome e aprendemos que éramos, enfim, bons.
E não será o homem mau, numa certa hora do seu dia, feito de pura poesia,
não terá ele um gesto de amizade, um momento de perdão?
Temos a mesma herança genética de todos os homens da Terra.
Todos, homens , animais, árvores , rios e plantas temos o mesmo DNA desde o primeiro espécime que aqui adentrou e se espalhou no nosso planeta.
Ouvi de um cientista cético que era a genética que nos tornava a todos os seres deste mundo - irmãos por todo o sempre. Não por sermos filhos do mesmo pai - o Deus religioso.
Então, somos feitos de momentos inteligentes, estúpidos, enérgicos ou apáticos,
bons ou maus. Somos sim, "assim como os rios, feitos dos mesmos elementos, ora estreitos, ora rápidos, ora largos, ora plácidos, claros ou frios, turvos ou tépidos."
Que alegria, ó meu Deus, eu nasci gente, penso, sinto, amo e desamo, me magoo, perdoo e ainda me magoo, novamente, perdoo.
Hossanas ao Senhor - sou ainda capaz de fazer minhas escolhas!
Quem sabe, noutra vida, venha na forma de um elefante, uma águia, um golfinho , um lobo, um gato siamês ou um cão bem vira-latas.
E será que serei bom, mau, valente ou covarde...
ah, melhor ficar assim como estou: gente.
Talvez me seja imerecida a extrema graça de ser como um animal, tão evoluído e puramente inocente...
A vida é complicada. A vida descomplica. A vida é madrasta. A vida é generosa e bela.
Tudo são momentos.
Aproveitemos enquanto há luz no nosso olhar e um vivaz brilho de esperança!
Olá! Estamos vivos!
- Maria Izabel Viégas -