Encontrei esta poesia num livro meu de poesias que colecionava aos quinze anos,
eu, tão menina...
"Os Cisnes
A vida, manso lago azul algumas
vezes, algumas vezes mar fremente
tem sido para nós, constantemente,
um lago azul sem ondas nem espumas.
Sobre ele, quando desfazendo as brumas
matinais, rompe o sol vermelho e quente,
nós dois vagamos indolentemente
como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá por certo;
quando chegar esse momento incerto,
no lago, onde talvez a água se tisne.
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
nunca mais cante, nem sozinho nade.
Nem nade nunca ao lado de outro cisne."
- Julio Salusse -
E eu, tão jovem, me achava tão sozinha,
acreditava que nunca encontraria este amor
sequer sonhava que no seu olhar morava o meu cisne.
E que a vida num lago azul se tornaria,
a poesia acalentada, infantilmente,
era um presságio
de todo o amor
que preencheria o meu vazio.
Até hoje nadamos juntos,
houve sol quente e ardente,
houve muita calmaria,
nasceram outros cisnes.
e outros foram chegando.
O lago azul
parece que virou um mar
de ilimitados horizontes.
Ainda e sempre nadando juntos.
Hoje, porém, reflito
adulta e feliz por ter amado tanto
questino a mim mesma
se seria certo
que se, um cisne
daqui partir,
para morar do outro lado...
o cisne 'vivo'
deveria ficar assim tão triste.
Se ele acredita
que por todo o sempre
o outro não se foi...
mora ainda no seu coração,
encheu seu cálice de vida
com o néctar de amor mais puro.
Se a morte não existe
Se apenas é um
- até logo -
e que juntos
nadarão
na eternidade...
por que o cisne que ficar
deverá quedar-se
assim tão triste?
Por que manchar seu coração de negro luto
para que a alma do amado
a visite
e a encontre em prantos?
E, lá no etéreo o cisne liberto
se aprisione na dor do pranto?
Porque não nadar,
nem cantar?
O amor verdadeiro é eterno!
Por que não continuar a trocar
eflúvios de felicidade
entre os dois corações.
Criando per sempre,
elos entre os dois mundos.
Energizando-se em luz, dois corações.
Em amorosa harmonia e paz?
E por que não dançar mais com outros cisnes?
Há tanta vida num amor que dura.
- Maria Izabel Viégas -
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