– em sociedade, porque somos uns animais gregários –
que é simplesmente não calar.
Não calar!
Que isso possa custar
em comunidades várias
a perda de emprego ou más interpretações
já o sabemos,
mas também não estamos aqui
para agradar a toda a gente.
Primeiro, porque é impossível,
e segundo, porque se a consciência nos diz
que o caminho é este
então sigamo-lo
e quanto às consequências
logo veremos. "
- José Saramago -
E sabes que isso não é nada fácil?
Sabes o quanto dói e fere o peso da opinião dos outros
que desde cedo te ensinam a falar apenas aquilo que querem ouvir?
Que peso imenso colocas sobre minhas costas já tão cansada!
Quem tem sonhos e premonições
sabe que é preciso calar,
é alvo de críticas .
Loucos, assim te chamam.
És a criança esquisita que fala sozinha.
Que previu a sorte ou a morte de alguém, cala-te!
Pois sereis julgada como bruxa,
numa hodierna inquisição de egos.
Como falar sobre lucidez
quando se assiste a grupos
que dançam
e profetizam
e só tu vês
que ali nenhuma
força espiritual
está manifesta.
Que é tudo frenesi doentio?
Como não calar-se frente à ferrenha estupidez do homem na vida de tua nação?
Que voz é a tua que nunca é a que vence as contendas?
Que vence quem é o menos pensante!
Que vence o que mais tesouros roubou como os antigos senhores feudais?
Como fazer para engolir todos os sons de indignação,
que te sufocam a mente,
que magoam
e ferem o teu coração?
Calar-se é mais cômodo,
é vital para evitar confrontos
pois ninguém acredita em ti!
E num assombroso retorno a vidas pretéritas,
vive-se o mesmo
o mesmo,
e no mesmo,
vamos adoecendo,
morrendo aos poucos,
pois a cada ato
que faz mal
e que falas o que
o povo quer ouvir:
mentiras que a vida está boa,
que o arco - íris é real
e que só ele te basta para tua sorte.
E que te basta o pôr do sol!
Quem disse que me basta
o sol nascer ou adormecer,
se não posso bradar
neste espetáculo - festa,
que o rei passou por todos,
numa carruagem de fogo,
flamejante ,
mas totalmente nu!
Tu te calas,
morre a voz,
morre a força,
morre em vida tua alma!
E se não te calas,
te matam,
se morre excluído,
exilado!
Essa é a consequência da lucidez:
matam tua voz!
Desta vez,
Outra vez,
Mais uma vez,
Até quando?
- Maria Izabel Viégas -
4 comentários:
não vamos permitir, podemos mudar as palavras talvez, mas que o conteúdo seja eternizado pela palavra.
adorei, beijos
http://umanjotriste.blogspot.com.br/
Obrigada, amiga Jeanne
Sim, claro que sim!
Que ninguém nos cale.
"O conteúdo eternizado pela palavra", belo, minha amiga!
Grata
pela sua inteligente
e sempre doce presença!
Beijos!
Muito lindo, Bel, um poema e tanto! Uma fera você é! Não podemos e nem devemos nos calar, principalmente diante das injustiças, porque se calarmos, nos roubarão a voz. Bjs. Marli
Sei bem como é, você ainda consegue dizer alguma coisa, mas eu, Izabel, ando sufocada... Mas nenhum grito que possa mudar o mundo, coisas menores, pessoais.
Não devemos nos calar nunca, sob pena de adoecermos fisicamente. Não pense que vc "prega no deserto". Continue falando, continue se indignando e deixe que só os que interessam lhe ouçam. Quem não quiser ouvir, que faça ouvidos moucos e viva sua mediocridade.
Respire fundo e solte a voz.
Beijo.
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