Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O despertar da mulher selvagem




"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem.
Existem poucos antídotos aceitos pela nossa cultura para esse desejo ardente.
Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração.
Deixamos o cabelo crescer e o usamos para esconder nossos sentimentos.
No entanto, o espectro da Mulher Selvagem 
ainda nos espreita de dia e de noite.
Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós 
tem definitivamente quatro patas."

Clarissa Pinkola Estés,
in prefácio
do livro Mulheres que Correm Com Os Lobos


Nasci nesta encarnação com a honra de ser mulher.
Essa Alma manifesta na forma feminina.
( Creio que existam homens que também nasceram com essas fortes lembranças da alma feminina e que a cada dia se ajustam e modificam a cultura vigente, abrindo novos caminhos. Abençoados sejam!)

Desde criança atraída pela mulher selvagem.
Contida pela educação que nos restringe
de libertar esse sentimento forte de seguir instintos,
Cheia de ideias, impulsos e recordações de todas as vivências de outras vidas.
Pequenina e  tímida seguia todas as ordens da família.
Nada que fosse aviltante.
Dentro da cultura da época havia espaço para aprendizados com pais fortes, generosos.
 Muita paixão a observar.
Controle, sim , muito.
Nada que matasse a loba criança ainda.
Quem nasce com uma Lua em Escorpião nunca poderá dizer que a infância foi apenas calmarias.
Mas quem quer calmarias?
Calmarias não içam as velas dos nossos veleiros.
E crescer em sentimentos e aventuras é velejar por mares e oceanos de emoções.
Amor envolvente paterno, materno e fraterno.
Amor sufocante pois julgavam-me mais preciosa do que eu era.
Lembro-me bem que adorava ficar à espreita de minha mãe a queimar em fogueira as folhas secas do quintal. Havia o cuidado até exagerado para que eu não chegasse muito perto. Proteção para que nada de mal me acontecesse.
Mas, a loba menina sabia esperar a hora das cinzas.
E inventava a brincadeira de pular através da fumaça.
Ouviu ( ou inventou?) alguém a dizer que quem pulasse na fumaça viraria bruxa.
E  menina queria ser , de novo, uma bruxa.
Uma bruxa bem bonita, mas bruxa.
Bruxas tinham mais poder que as fadas.
Que eram tontas, meio fúteis e não desfaziam feitiços.
Era a loba a se manifestar.
Na verdade, esse animal que estava preso ao meu corpo ,
impregnando de liberdade a minha aura,
pulou num salto magnífico
no dia em que nasceu
meu primeiro filho.
Transcendental libertação!
Experiência extra-sensorial.
Transmutação.
Morte e Vida.
Iluminação.
Hoje adormeço ouvindo sua voz.
Acordo e nem sei bem quem anda comigo.
Se a loba se levanta
Ou sou eu que corro,
animal a ouvir os segredos
dos pássaros do dia,
deixando pegadas
por onde passo.

Maria Izabel Viégas




2 comentários:

Biu disse...

Maria Izabel, Mainha! Amiga! Bruxa!
É uma honra receber este link, e conhecer um pouco de você, de sua história tão viva e tão bem vivida.
Gratidão.
Também andei a saltar fumaças...
E que beleza de interpretação da alma feminina.
Amo ´´Mulheres que correm com lobos´´ !
Gratidão.
Amor e Luz!
Bill

)O(Lua Nua)O( disse...

Lindo texto! Carregado de cheiro de terra, pingos de chuva e hálito de liberdade. Grata, minha querida!