Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

domingo, 25 de novembro de 2012

Minha preta velha Cambinda, clara é tua luz!




O meu amor e carinho à minha Vovó Cambinda,
que guiou os passos de minha mãe Maria e que me ampara em todas as horas da minha vida.
Bênção, minha Santa Guia Espiritual!


"Todas as Vidas"

"Vive dentro de mim
uma preta velha
de mau- olhado,
acocorada ao pé
do borralho.
Benze quebranto
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo…
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha…
tão desprezada,
tão murmurada…
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!"


poema: da magnífica Cora Coralina

6 comentários:

Bloguinho da Zizi disse...

Ai que amo essas pretas velhas!
São colo que aconchega, ombro que consola, palavra que alerta. São amor puro, nu, rasgado. É tanto amor que por vezes dói.

Lindo! Izabel, muito lindo!

chica disse...

Que maravilha de poema!Adoro a Cora! Que bom te ver novamente,adorei e agora não vamos nos perder. beijos,chica e obrigado pelo carinho!

Élys disse...

Belíssimo poema falando de uma entidade maravilhosa que é só ternura.

Quando aqui venho, também, uma grande paz me envolve. Certamente esta paz vem de você que tem uma linda luz a lhe envolver.
Beijos.
Élys.

Maria Izabel Viegas disse...

Alzira Zi,
amei o teu:
"São amor puro, nu, rasgado.
É tanto amor que por vezes dói."
Lindo, amiga, muito carinho no coração!
Beijos, obrigada por amá-la tanto, aqui comigo...

Maria Izabel Viegas disse...

Chica Joaninha,
eu andava com tanta saudade que fui te procurar no teu Canteiro!
Bom estar contigo!
Obrigada, muitos beijos.
Força e Luz na tua vida!

Maria Izabel Viegas disse...

Élys amigo querido de nós,

Cora Coralina soube bem ler a alma da terra. Louvar seus orixás, louvar as mulheres que são partes de todos nós.
Beijos agradecidos.
Amo teus Blogues!
Tua poesia adoça e acalma a alma.