Minhas Memórias

Eu.
Sou feita de todas as lembranças de todos os instantes desta vida.
Sou refeita em todas as tomadas de decisões e ações investidas.
Sou construída pelos sonhos de outrora.
Existo pela insistência em declarar-me viva.
No pensar invado a razão.
No sentir mergulho e banho-me em sentimento.
Nas dúvidas extasio-me nas redescobertas.
Nas certezas confronto-me com a complexidade.
Nas emoções reacendo-me em amores e alegrias.
Infinitamente disposta a existir.
Participar ativamente da memória
deste mundo em que escolhi escrever
e ser a minha história.
Aqui é o meu tempo agora...
- Maria Izabel Nuñez Viégas -

Amigos Caminhantes...

domingo, 11 de novembro de 2012

O Deus dos caminhantes


"Esta manhã
não tenho nenhuma religião
em especial.
Meu Deus é o Deus dos Caminhantes.
Se alguém caminhar o suficiente,
é bem provável
que não necessite
de nenhum Deus."

- Bruce Chatwin,  in Patagônia -

Hoje me detive a olhar atenta a todos os seres humanos que estavam aqui ao alcance de meus olhos.
Ouvi palavras soltas que nada diziam,
alguns diálogos breves, sinceramente, nem sei do que falavam
Considerei-os tão particulares que escutá-los era feia invasão.
Ouvi risadas, agradáveis pela alegria.
Vozes alteradas, essas nem sei quem foi.
Observei silêncios amorosos.
E presenciei silêncios de solidão.

Eu nada buscava,
olhava maravilhada
o como o mundo não repete personagens nesta sua história.

Num reduzido tempo e espaço,
vi tantos desiguais, tantas diferenças
que entendi mais e mais a mim mesma.
Como posso pensar igual na minha diferença.
Como podem as pessoas pensarem num uníssono,
seguindo mesmas idéias e  ideais,
formando grupos que se distanciam
seguindo religiões em nome de seus deuses,
os fazedores de igrejas.
Como se unem para atacar as chamadas "minorias"
Como minorias se submetem, assumindo o julgamento de gente tão desigual?
Pensei e muito sobre a Torre de Babel
E, perplexa, confesso que quase acreditei que ela existiu!

E, numa viagem minha, num repente,
me lembrei destas palavras de Bruce Chatwin
sobre o seu Deus dos Caminhantes.
De como cada um vê a divindade
segundo seus princípios
suas vivências, preferências e prazeres.
E ouvi e respeitei as palavras
desse caminhante que se extasia com a beleza
e não precisa que exista o Deus.
Ele tem o seu!
E que naquele instante nenhuma religião
o movia no seu destino,
ele era o seu destino.
Ele seguia o seu deus -  ali na natureza esplendorosa!

Por que não?
Tão diferente de mim, ao mesmo tempo tão próximo,
- vivemos nos extremos opostos -
eu que encontro Deus
nas mais altas montanhas,
nas águas dos oceanos
na singela beleza de uma flor,
na lágrima de sofrimento
nos cânticos de alegria
Ele, Meu Senhor Deus está presente!

Na nossa diferença
encontramos na estesia,
a amorosa presença de dois Deuses,
iguais na beleza e magnitude,
talvez nem nós saibamos
pronunciar seus verdadeiros Nomes.

Creio que é assim na vida,
se nos respeitarmos nas nossas diferenças
sem distinções de credos, crenças,
questões de fé
seremos mais justos,
mais livres
para caminharmos por onde quisermos,
viajantes ou não,
longas estradas,
pequenos percursos
ou numa parada solo,
estaremos sempre nessa maravilhosa diferença,
dialogando ou não,
haverá a nos unir um Deus,
de qualquer nome,
a nos enebriar com sua presença
tornando mais leve
ajustando as rotas
da nossa caminhada.

Maria Izabel Viégas




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