"A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre."
.- Clarice Lispector-
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre."
.- Clarice Lispector-
Lembro-me, não com nitidez, mas no meio de confusa luminosidade, do instante místico em que retornei.
Transformando-me em pequenino ponto no útero materno.
Da luz à escuridão,
metamorfose de ser espírito consciente em ser embrionário..
Um cone afunilando-se, jorrando-me ao pulsar de uma outra vida.
Aos poucos a coragem e a alegria se transformando num sonolento medo ...
Como me receberiam?
Lá no outro lado, meus pais se comprometeram a me receber
e senti um leve dual:
uma certa doce alegria e certo medo da responsabilidade.
Receber um filho de volta é um redemoinho de emoções
em que o Amor prevalece,,
mas não se exclue o receio de errar
pois gente erra
e é assim mesmo,
é o risco de conduzir mais uma vida...
Mas, eu jurei a mim mesmo
que tudo faria para que amassem muito.
que tudo faria para que amassem muito.
Num de repente, mais que de repente,
me vi naquele cone,
velho conhecido de outras vidas,
velho conhecido de outras vidas,
Caindo num precipício tenebroso,
me esquecendo cada vez mais de quem seria eu no amanhã.
Já nada mais sabia.
Num primeiro instante
entrei num Oceano escuro.
entrei num Oceano escuro.
Perdi-me totalmente de mim...
Despertei com um coração pulsando.
Percebi que aquilo que se chamava Vida!.
Ouvi tua voz - Maria.
Senti tua mão me procurando - Alberto.
Cada minuto, cada segundo, mais medo sentia.
Eu estava ali tão presa, afinal,
quem eu seria?
Disseram que eu era um "bater de asas de borboletas".
Seria esse o resolver do meu grande enigma - eu uma borboleta?
O que viria depois?
Tudo tão preso, calado e quieto.
Tudo tão preso, calado e quieto.
O tempo parecia ter parado no tempo.
Decidido:
eu seria um ser alado,
borboletearia pelos caminhos.
borboletearia pelos caminhos.
Devia assim sendo borboleta
ser fácil nascer...
ser fácil nascer...
era só abrir aquele casulo e voar,
voar bem alto.
Ah... eu voltaria lá para o lugar de onde vim.
Se as vozes disseram que eu tinha asas... eu voaria!
Como sempre o nada vira tudo,
Numa noite quieta, de lua cheia,
Numa noite quieta, de lua cheia,
eu já estava tão acostumada,
tão quietinha no meu casulo- conchinha...
eis que jorrou em mim uma cachoeira!
Um mundo de águas,
novo redemoinho.
Arremessada numa veloz descida,
acordei chorando
nas mãos de um estranho branco ser
humano, ele era humano
e eu, uma humana- menina!
E a dona do ventre estava la, estava comigo,
sorvi seu néctar, era a minha Maria!
E o dono da mão-carícia - Alberto - de pronto me pegou no colo
e amou-me por toda a vida!
Nascer é um risco, uma perigosa aventura!
Mas o que seria de minha alma
se eu não assumisse
esse adorável e temerável risco?
Nascer, chorar, crescer, ter medo,
Tomar consciência de que se é humano.
Relembrar sempre de algum lugar que nem se sabe onde..
Tudo é risco...
Ainda bem que ultrapassei a barreira entre os dois mundos.
O que seria de nós sem a honra de vencer a nós mesmos.
De aprendermos a extrair dos medos a coragem para enfrentar todos os perigos.
Tudo é risco.
Nada é fácil.
Tudo é possível.
Pois a Vida é um milagre, sim!
Um milagre...
vale pena ser assumida a vida!
vale pena ser assumida a vida!
- Maria Izabel Viégas -
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